Mirror





“I've been looking in the mirror for so long/That I've come to believe/My soul's on the other side”

      A doce voz de Camilla comovia ao pequeno público presente no restaurante italiano Villa Borghese em Brasília. Era a sua primeira apresentação naquele local e ela estava se saindo incrivelmente bem. Camilla cantava em uma banda que fazia cover das músicas da banda norte-americana Evanescence. Seu irmão, Leandro também participava da banda, ele tocava bateria.
      Camilla estava vestindo um vestido preto com a saia volumosa com várias camadas na altura do joelho, e havia um corpete na parte de cima do vestido. Sua maquiagem também era escura e ela usava luvas rendadas. Camilla estava sentada em frente ao teclado tocando-o e cantando.
      Várias pessoas a admiravam com olhos hipnotizados por sua voz perfeitamente angelical. Algumas garotas choravam, e quase todos deixavam seus pratos quase intocados repousados na mesa.
      No final do pequeno show o proprietário do restaurante pagou um pequeno cachê aos integrantes da banda e os convidou para voltarem na semana seguinte.
      Os garotos deixaram Camilla em seu apartamento e em seguida foram para um bar comemorar o sucesso da noite. Camilla subiu para seu apartamento pelo elevador. A primeira coisa que fez ao chegar foi tirar suas roupas pretas e vestir um pijama. Ela estava feliz com sua apresentação, principalmente por ter conseguido emocionar as pessoas naquele local.
      Camila estava pronta para ir se deitar faltava apenas se livrar da maquiagem escura. Ela foi até sua penteadeira e colocou um pouco do removedor em um pedaço de algodão. Quando terminou Camila viu uma sombra passar por trás pelo reflexo do espelho, mas quando se virou já não havia mais nada. Fora apenas sua imaginação.
      Camila acordou com seu celular tocando. Era seu irmão marcando um ensaio para as duas horas. Ela confirmou sua presença e levantou-se para tomar café da manhã.
      Após tomar o café da manhã, Camila foi até o banheiro escovar seus dentes. Após isso foi até sua penteadeira e fez uma maquiagem leve e prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo alto.
      Pelo reflexo do espelho ela viu uma criança loira sem olhos a encarando. A criança estava parada próxima a porta do banheiro. Camila assustou-se ao ver aquela cena, mas garantiu a si mesma que aquilo tudo era causado apenas por suas poucas noites de sono.
      — Oi mana — falou Leandro quando sua irmã chegou a sua casa.
      — Oi Leandro — respondeu Camila e os dois entraram. — Temos algum show hoje à noite?
      — Hoje não, mas amanhã nós vamos tocar na festa de aniversário de uma amiga do Paulo.
      Paulo era outro integrante da banda, ele tocava baixo.
      Não demorou muito até os outros integrantes da banda chegarem e eles começarem a ensaiar. A primeira música que eles tocaram foi Cry for the moon da banda Epica. Renato, o guitarrista, cantou com Camila.
      Eles tocaram outras músicas das bandas Epica, Nightwish, Within Temptation e a favorita de Camila: Evanescence.
      Como o teclado não estava ali, ela não pode tocar sua música favorita: Breathe no more. Paulo levou Camila até sua casa quando o ensaio terminou.
      Chegando em casa, Camila foi para sua sala, onde havia um piano e tocou a música Breathe no more. Enquanto tocava Camila viu a mesma garota loira pelo reflexo do espelho que estava na parede atrás do piano. Ela parou de tocar no mesmo instante e olhou para trás, mas como nas vezes anteriores, não havia nada.
      Camila foi dormir mais cedo naquele dia. A banda teria um ensaio às oito horas da manhã, antes de irem ao clube onde seria a festa de aniversario da amiga de Paulo. Eles tocariam durante toda à tarde.
      Antes de ir ao ensaio Camila fez uma maquiagem leve e colocou seu kit de maquiagem na bolsa, com lápis de olho, delineador, sombra preta, rímel, um batom vermelho e um espelho.
      Após uma hora de ensaio Camila foi fazer sua maquiagem dark. No instante em que ia passar o batom Camila viu novamente uma sombra passar pelo espelho e instantes depois o mesmo se quebrou fazendo alguns pequenos cortes no rosto de Camila.
      — O que aconteceu? — perguntou Paulo após ver os cortes no rosto de Camila e o espelho quebrado.
      — Eu não sei — respondeu Camila, um pouco assustada. — Eu estava fazendo minha maquiagem e o espelho quebrou.
      — Um espelho não pode se quebrar sozinho — falou Leandro.
      — Mas esse quebrou! — protestou Camila.
      — Tudo bem, isso não importa — falou Renato. — Vá ao banheiro, lave o rosto e tente disfarçar os cortes.
      E assim fez Camila. Ela lavou o rosto e cobriu com base o Maximo que pode seus ferimentos. Eles não estavam mais perceptíveis. E após terminar Camila viu novamente a garota loira. Mas dessa vez houve algo a mais. Quando a garotinha loira desapareceu deixou um recado no espelho, escrito: “Your end is coming”. Camila entendia inglês o bastante para traduzir aquela frase: Seu fim está chegando. Um tremor percorreu sua espinha, mas ela logo o ignorou.
      Uma hora depois eles estavam no clube onde seria a festa de Andréia, a amiga de Paulo. Rapidamente eles preparam o palco e ligaram seus instrumentos. Primeiramente eles tocaram músicas nacionais. Três da Pitty (Fracasso, Anacrônico e Máscara) e duas de Legião Urbana (Que país é esse e Pais e Filhos).
      Após isso eles fizeram uma pequena pausa. Os garotos foram servir-se de salgadinhos e Camila foi ao banheiro retocar a maquiagem. Dessa vez ela não percebeu a sombra que atravessou o espelho.
      Camila voltou e após seu intervalo de meia hora os integrantes da banda voltaram para o palco. Todos concordaram em dar um descanso às cordas vocais de Camila e Renato assumir por algumas músicas.
      Eles tocaram cinco músicas da banda Helloween que era a favorita da aniversariante. A ultima músicas que eles tocaram foi Mirror, Mirror, uma música que deixou Camila um pouco assustada por se lembrar do que acontecera com seu rosto.
      Camila voltou ao palco para cantar sozinha, dessa vez. Ela sentou-se diante do teclado e tocou a música My immortal de sua banda favorita. Depois tocou Memory da banda Epica, e depois voltou as músicas do Evanescence tocando: You, Missing, Good Enough e por ultimo sua favorita: Breathe no more. Novamente ela emocionou ao público.
      Os garotos voltaram ao palco e juntos eles tocaram Bring me to life. Camila ainda sentada ao teclado. Camila viu uma sombra em cada um dos seis espelhos presentes no palco. Agora ela começou a se assustar. As sombras se moviam confusamente, passeando entre um espelho e outro, desenhando pentagramas no ar onde voavam. Camila desejou mais que tudo que aquilo parasse, mas elas não iam embora.
      Após torturantes segundos as sombras finalmente pararam, mas isso não foi uma coisa boa. Ao pararem elas fizeram com que todos os espelhos se quebrassem. Ao perceber o que acontecera Camila se jogou no chão, evitando os cacos de vidro que voavam sobre o palco. Os garotos da banda não perceberam isso a tempo.
      Renato fora atingido no pescoço rompendo sua artéria, sangrando até a morte. Paulo recebera um pedaço grande de espelho em seu coração. Paulo fora atingido por outro pedaço grande de um dos espelhos que o decapitou. E Leandro fora atingido pelas costas tendo ambos os pulmões perfurados.
      Camila assistiu a tudo aquilo com uma dor profunda em seu coração. Ela vira o que iria acontecer e não os alertara. Ela era a culpada. Durante dois minutos ela apenas ficou encarando aos corpos sem vida no palco. Ela não fez nada além de observar. Não chorou, não gritou e nem se moveu.
      Após seu estado de choque passar Camila pegou as chaves do carro do irmão no bolso da calça dele e dirigiu apressada e perigosamente até sua casa.
      Camila foi direto até seu quarto, deitou-se na cama e por um bom tempo apenas chorou. Lamentou a morte do irmão, dos amigos, se culpou por não ter dito nada, voltou ao passado e reviveu toda a dor que já sentira.
      Quatro horas depois Camila finalmente conseguiu parar de chorar. Ela levantou-se, secou as ultimas lágrimas que ainda escorriam em seu rosto e foi ao banheiro. Seu reflexo estava péssimo. A maquiagem escura dos olhos estava completamente borrada. Ela abriu a torneira e lavou o rosto. Ao se levantar e encarar seu reflexo viu que a mesma menina de cabelos loiros estava atrás dela, mas apenas pelo reflexo do espelho.
      A garota loira a empurrou, fazendo-a atravessar o espelho e ir parar em algum tipo de dimensão diferente. A mesma garotinha estava diante de Camila agora.
      — Você sabe quem eu sou? — perguntou a garota loira com sua voz doce e infantil.
      A garota usava um vestido branco surrado e cheio de sangue, seu rosto era pálido e havia traços escuros sob seus olhos, seus dentes estavam manchados e o cabelo desgrenhado. A garota tinha a aparência de um zumbi.
      Camila fez que não com a cabeça.
      — Não, claro que não — falou a garota. — Há dez anos, nesse mesmo banheiro você me matou. Lembra-se agora?
      Todas as lembranças voltaram e fizeram Camila ser jogada para trás com o baque que causaram. Ela estava atordoada.
      — Não pode ser — falou Camila para ela mesma. — Isso é impossível.
      — Como era para uma garota de 14 anos ser mãe? — a garota loira agora gritava. — Quando você tomou aquele remédio e provocou a minha morte eu deveria ter morrido, e talvez tenha, mas por alguma razão eu vim parar aqui, em um mundo não muito distante do seu, e enquanto estivesse aqui poderia lhe observar sem ser percebida, e então eu finalmente pude me vingar de você, mas para você eu não darei a morte, assim como fiz a todos que você amava.
      — A todos que eu amava?
      — Você se lembra como os seus pais morreram?
      — Em um acidente de carro.
      — Sim, mas você sabe o que causou aquele acidente?
      — Um dos pneus traseiros foi perfurado e fez meu pai perder o controle do carro.
      — Muito bem. E você sabe o que furou o pneu?
      — Não.
      — Um dos espelhos retrovisores que se soltara do carro.
      — Você os matou, assim como fez com Leandro!
      — Ah, mas pra isso eu tive ajuda. Eu não poderia fazer isso tudo sozinha.
      — Aquelas sombras. O que elas são?
      — Apenas sombras. E não, não foram só elas quem me ajudaram. Eu tive uma pequena ajuda sua.
      — Minha?
      — Diga-me: O que diz a letra dos três primeiros versos da sua música favorita?
      Camila pensou um pouco e encontrou a tradução da música Breathe no more. Ela disse:
      — “Eu olhei no espelho por tanto tempo/Que comecei a acreditar/Que a minha alma estava do outro lado.” Mas o que isso tem haver com as mortes?
      — Por alguma incrível razão que eu desconheço eu só posso tomar conta dos espelhos onde você canta essa música. Diga-me: Não era essa a música que você adorava cantar no banco de trás do carro dos seus pais?
      — Você é um monstro!
      — Não sou tão diferente assim de você, mamãe. Matar-me quando eu era apenas um feto, que não lhe faria mal nenhum. Apenas estou lhe dando o mesmo destino que você me deu.
      — Ah, e você vai me matar?
      — Não, lhe darei um destino ainda pior. Você ficará presa aqui, neste mundo de dor e angustia, sem conseguir escapar, enquanto eu viverei em seu corpo levando destruição a todos aqueles que foram cruéis como você!
      — Mas isso é impossível!
      — Depois de tudo o que você viu deveria rever suas definições de possível e impossível. Para poder sair daqui eu teria que deixar alguém no meu lugar, alguma alma. E para isso acontecer o candidato deve ter algum tipo de ligação com esse mundo e ter sido ferido por meus espelhos sem ter perdido a vida. É confuso, mas é assim que funciona.
      — E que tipo de ligação eu poderia ter com esse mundo?
      — Você adora tanto ao seu reflexo. A música que você canta não é apenas a letra de uma música, você aprisionou sua alma aqui um pouco a cada vez que você veio a um espelho. E agora sua alma ficará do outro lado. Para Sempre!
      A garota atravessou o espelho deixando a alma de Camila presa no mundo dos reflexos. A menininha loira se apossou do corpo de Camila e usou a ligação que ainda tinha com os espelhos para punir a todos aqueles que ela julgava serem maus.
      Camila nada podia fazer a não ser observar enquanto sua filha matava pessoas usando seu corpo. Não havia mais escapatória para ela, não havia como retornar. Ela sofreria vendo aquele tipo de diversão sádica para sempre, já que sua filha era imortal, por jamais ter tido realmente uma vida.

Cidade das Cinzas


(…) Jace: Eu também não te odeio.Clary: Fico feliz em ouvir isso.Jace: Gostaria de conseguir odiá-la. Queria odiar. Tento odiar. Seria muito mais fácil se odiasse. Às vezes acho que odeio, e depois quando eu te vejo e eu… 
Cidade das Cinzas (Cassandra Clare)

(…)Jace: Eu também não te odeio.
Clary: Fico feliz em ouvir isso.
Jace: Gostaria de conseguir odiá-la. Queria odiar. Tento odiar. Seria muito mais fácil se odiasse. Às vezes acho que odeio, e depois quando eu te vejo e eu… 
Cidade das Cinzas (Cassandra Clare)
 

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