Mirror





“I've been looking in the mirror for so long/That I've come to believe/My soul's on the other side”

      A doce voz de Camilla comovia ao pequeno público presente no restaurante italiano Villa Borghese em Brasília. Era a sua primeira apresentação naquele local e ela estava se saindo incrivelmente bem. Camilla cantava em uma banda que fazia cover das músicas da banda norte-americana Evanescence. Seu irmão, Leandro também participava da banda, ele tocava bateria.
      Camilla estava vestindo um vestido preto com a saia volumosa com várias camadas na altura do joelho, e havia um corpete na parte de cima do vestido. Sua maquiagem também era escura e ela usava luvas rendadas. Camilla estava sentada em frente ao teclado tocando-o e cantando.
      Várias pessoas a admiravam com olhos hipnotizados por sua voz perfeitamente angelical. Algumas garotas choravam, e quase todos deixavam seus pratos quase intocados repousados na mesa.
      No final do pequeno show o proprietário do restaurante pagou um pequeno cachê aos integrantes da banda e os convidou para voltarem na semana seguinte.
      Os garotos deixaram Camilla em seu apartamento e em seguida foram para um bar comemorar o sucesso da noite. Camilla subiu para seu apartamento pelo elevador. A primeira coisa que fez ao chegar foi tirar suas roupas pretas e vestir um pijama. Ela estava feliz com sua apresentação, principalmente por ter conseguido emocionar as pessoas naquele local.
      Camila estava pronta para ir se deitar faltava apenas se livrar da maquiagem escura. Ela foi até sua penteadeira e colocou um pouco do removedor em um pedaço de algodão. Quando terminou Camila viu uma sombra passar por trás pelo reflexo do espelho, mas quando se virou já não havia mais nada. Fora apenas sua imaginação.
      Camila acordou com seu celular tocando. Era seu irmão marcando um ensaio para as duas horas. Ela confirmou sua presença e levantou-se para tomar café da manhã.
      Após tomar o café da manhã, Camila foi até o banheiro escovar seus dentes. Após isso foi até sua penteadeira e fez uma maquiagem leve e prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo alto.
      Pelo reflexo do espelho ela viu uma criança loira sem olhos a encarando. A criança estava parada próxima a porta do banheiro. Camila assustou-se ao ver aquela cena, mas garantiu a si mesma que aquilo tudo era causado apenas por suas poucas noites de sono.
      — Oi mana — falou Leandro quando sua irmã chegou a sua casa.
      — Oi Leandro — respondeu Camila e os dois entraram. — Temos algum show hoje à noite?
      — Hoje não, mas amanhã nós vamos tocar na festa de aniversário de uma amiga do Paulo.
      Paulo era outro integrante da banda, ele tocava baixo.
      Não demorou muito até os outros integrantes da banda chegarem e eles começarem a ensaiar. A primeira música que eles tocaram foi Cry for the moon da banda Epica. Renato, o guitarrista, cantou com Camila.
      Eles tocaram outras músicas das bandas Epica, Nightwish, Within Temptation e a favorita de Camila: Evanescence.
      Como o teclado não estava ali, ela não pode tocar sua música favorita: Breathe no more. Paulo levou Camila até sua casa quando o ensaio terminou.
      Chegando em casa, Camila foi para sua sala, onde havia um piano e tocou a música Breathe no more. Enquanto tocava Camila viu a mesma garota loira pelo reflexo do espelho que estava na parede atrás do piano. Ela parou de tocar no mesmo instante e olhou para trás, mas como nas vezes anteriores, não havia nada.
      Camila foi dormir mais cedo naquele dia. A banda teria um ensaio às oito horas da manhã, antes de irem ao clube onde seria a festa de aniversario da amiga de Paulo. Eles tocariam durante toda à tarde.
      Antes de ir ao ensaio Camila fez uma maquiagem leve e colocou seu kit de maquiagem na bolsa, com lápis de olho, delineador, sombra preta, rímel, um batom vermelho e um espelho.
      Após uma hora de ensaio Camila foi fazer sua maquiagem dark. No instante em que ia passar o batom Camila viu novamente uma sombra passar pelo espelho e instantes depois o mesmo se quebrou fazendo alguns pequenos cortes no rosto de Camila.
      — O que aconteceu? — perguntou Paulo após ver os cortes no rosto de Camila e o espelho quebrado.
      — Eu não sei — respondeu Camila, um pouco assustada. — Eu estava fazendo minha maquiagem e o espelho quebrou.
      — Um espelho não pode se quebrar sozinho — falou Leandro.
      — Mas esse quebrou! — protestou Camila.
      — Tudo bem, isso não importa — falou Renato. — Vá ao banheiro, lave o rosto e tente disfarçar os cortes.
      E assim fez Camila. Ela lavou o rosto e cobriu com base o Maximo que pode seus ferimentos. Eles não estavam mais perceptíveis. E após terminar Camila viu novamente a garota loira. Mas dessa vez houve algo a mais. Quando a garotinha loira desapareceu deixou um recado no espelho, escrito: “Your end is coming”. Camila entendia inglês o bastante para traduzir aquela frase: Seu fim está chegando. Um tremor percorreu sua espinha, mas ela logo o ignorou.
      Uma hora depois eles estavam no clube onde seria a festa de Andréia, a amiga de Paulo. Rapidamente eles preparam o palco e ligaram seus instrumentos. Primeiramente eles tocaram músicas nacionais. Três da Pitty (Fracasso, Anacrônico e Máscara) e duas de Legião Urbana (Que país é esse e Pais e Filhos).
      Após isso eles fizeram uma pequena pausa. Os garotos foram servir-se de salgadinhos e Camila foi ao banheiro retocar a maquiagem. Dessa vez ela não percebeu a sombra que atravessou o espelho.
      Camila voltou e após seu intervalo de meia hora os integrantes da banda voltaram para o palco. Todos concordaram em dar um descanso às cordas vocais de Camila e Renato assumir por algumas músicas.
      Eles tocaram cinco músicas da banda Helloween que era a favorita da aniversariante. A ultima músicas que eles tocaram foi Mirror, Mirror, uma música que deixou Camila um pouco assustada por se lembrar do que acontecera com seu rosto.
      Camila voltou ao palco para cantar sozinha, dessa vez. Ela sentou-se diante do teclado e tocou a música My immortal de sua banda favorita. Depois tocou Memory da banda Epica, e depois voltou as músicas do Evanescence tocando: You, Missing, Good Enough e por ultimo sua favorita: Breathe no more. Novamente ela emocionou ao público.
      Os garotos voltaram ao palco e juntos eles tocaram Bring me to life. Camila ainda sentada ao teclado. Camila viu uma sombra em cada um dos seis espelhos presentes no palco. Agora ela começou a se assustar. As sombras se moviam confusamente, passeando entre um espelho e outro, desenhando pentagramas no ar onde voavam. Camila desejou mais que tudo que aquilo parasse, mas elas não iam embora.
      Após torturantes segundos as sombras finalmente pararam, mas isso não foi uma coisa boa. Ao pararem elas fizeram com que todos os espelhos se quebrassem. Ao perceber o que acontecera Camila se jogou no chão, evitando os cacos de vidro que voavam sobre o palco. Os garotos da banda não perceberam isso a tempo.
      Renato fora atingido no pescoço rompendo sua artéria, sangrando até a morte. Paulo recebera um pedaço grande de espelho em seu coração. Paulo fora atingido por outro pedaço grande de um dos espelhos que o decapitou. E Leandro fora atingido pelas costas tendo ambos os pulmões perfurados.
      Camila assistiu a tudo aquilo com uma dor profunda em seu coração. Ela vira o que iria acontecer e não os alertara. Ela era a culpada. Durante dois minutos ela apenas ficou encarando aos corpos sem vida no palco. Ela não fez nada além de observar. Não chorou, não gritou e nem se moveu.
      Após seu estado de choque passar Camila pegou as chaves do carro do irmão no bolso da calça dele e dirigiu apressada e perigosamente até sua casa.
      Camila foi direto até seu quarto, deitou-se na cama e por um bom tempo apenas chorou. Lamentou a morte do irmão, dos amigos, se culpou por não ter dito nada, voltou ao passado e reviveu toda a dor que já sentira.
      Quatro horas depois Camila finalmente conseguiu parar de chorar. Ela levantou-se, secou as ultimas lágrimas que ainda escorriam em seu rosto e foi ao banheiro. Seu reflexo estava péssimo. A maquiagem escura dos olhos estava completamente borrada. Ela abriu a torneira e lavou o rosto. Ao se levantar e encarar seu reflexo viu que a mesma menina de cabelos loiros estava atrás dela, mas apenas pelo reflexo do espelho.
      A garota loira a empurrou, fazendo-a atravessar o espelho e ir parar em algum tipo de dimensão diferente. A mesma garotinha estava diante de Camila agora.
      — Você sabe quem eu sou? — perguntou a garota loira com sua voz doce e infantil.
      A garota usava um vestido branco surrado e cheio de sangue, seu rosto era pálido e havia traços escuros sob seus olhos, seus dentes estavam manchados e o cabelo desgrenhado. A garota tinha a aparência de um zumbi.
      Camila fez que não com a cabeça.
      — Não, claro que não — falou a garota. — Há dez anos, nesse mesmo banheiro você me matou. Lembra-se agora?
      Todas as lembranças voltaram e fizeram Camila ser jogada para trás com o baque que causaram. Ela estava atordoada.
      — Não pode ser — falou Camila para ela mesma. — Isso é impossível.
      — Como era para uma garota de 14 anos ser mãe? — a garota loira agora gritava. — Quando você tomou aquele remédio e provocou a minha morte eu deveria ter morrido, e talvez tenha, mas por alguma razão eu vim parar aqui, em um mundo não muito distante do seu, e enquanto estivesse aqui poderia lhe observar sem ser percebida, e então eu finalmente pude me vingar de você, mas para você eu não darei a morte, assim como fiz a todos que você amava.
      — A todos que eu amava?
      — Você se lembra como os seus pais morreram?
      — Em um acidente de carro.
      — Sim, mas você sabe o que causou aquele acidente?
      — Um dos pneus traseiros foi perfurado e fez meu pai perder o controle do carro.
      — Muito bem. E você sabe o que furou o pneu?
      — Não.
      — Um dos espelhos retrovisores que se soltara do carro.
      — Você os matou, assim como fez com Leandro!
      — Ah, mas pra isso eu tive ajuda. Eu não poderia fazer isso tudo sozinha.
      — Aquelas sombras. O que elas são?
      — Apenas sombras. E não, não foram só elas quem me ajudaram. Eu tive uma pequena ajuda sua.
      — Minha?
      — Diga-me: O que diz a letra dos três primeiros versos da sua música favorita?
      Camila pensou um pouco e encontrou a tradução da música Breathe no more. Ela disse:
      — “Eu olhei no espelho por tanto tempo/Que comecei a acreditar/Que a minha alma estava do outro lado.” Mas o que isso tem haver com as mortes?
      — Por alguma incrível razão que eu desconheço eu só posso tomar conta dos espelhos onde você canta essa música. Diga-me: Não era essa a música que você adorava cantar no banco de trás do carro dos seus pais?
      — Você é um monstro!
      — Não sou tão diferente assim de você, mamãe. Matar-me quando eu era apenas um feto, que não lhe faria mal nenhum. Apenas estou lhe dando o mesmo destino que você me deu.
      — Ah, e você vai me matar?
      — Não, lhe darei um destino ainda pior. Você ficará presa aqui, neste mundo de dor e angustia, sem conseguir escapar, enquanto eu viverei em seu corpo levando destruição a todos aqueles que foram cruéis como você!
      — Mas isso é impossível!
      — Depois de tudo o que você viu deveria rever suas definições de possível e impossível. Para poder sair daqui eu teria que deixar alguém no meu lugar, alguma alma. E para isso acontecer o candidato deve ter algum tipo de ligação com esse mundo e ter sido ferido por meus espelhos sem ter perdido a vida. É confuso, mas é assim que funciona.
      — E que tipo de ligação eu poderia ter com esse mundo?
      — Você adora tanto ao seu reflexo. A música que você canta não é apenas a letra de uma música, você aprisionou sua alma aqui um pouco a cada vez que você veio a um espelho. E agora sua alma ficará do outro lado. Para Sempre!
      A garota atravessou o espelho deixando a alma de Camila presa no mundo dos reflexos. A menininha loira se apossou do corpo de Camila e usou a ligação que ainda tinha com os espelhos para punir a todos aqueles que ela julgava serem maus.
      Camila nada podia fazer a não ser observar enquanto sua filha matava pessoas usando seu corpo. Não havia mais escapatória para ela, não havia como retornar. Ela sofreria vendo aquele tipo de diversão sádica para sempre, já que sua filha era imortal, por jamais ter tido realmente uma vida.

Cidade das Cinzas


(…) Jace: Eu também não te odeio.Clary: Fico feliz em ouvir isso.Jace: Gostaria de conseguir odiá-la. Queria odiar. Tento odiar. Seria muito mais fácil se odiasse. Às vezes acho que odeio, e depois quando eu te vejo e eu… 
Cidade das Cinzas (Cassandra Clare)

(…)Jace: Eu também não te odeio.
Clary: Fico feliz em ouvir isso.
Jace: Gostaria de conseguir odiá-la. Queria odiar. Tento odiar. Seria muito mais fácil se odiasse. Às vezes acho que odeio, e depois quando eu te vejo e eu… 
Cidade das Cinzas (Cassandra Clare)

Prazer e Morte - Outro conto

      “Mais um corpo mutilado é encontrado”.

      Era o que dizia a manchete do jornal sobre a mesa de Safira. Ela pegou o jornal e leu em voz alta um pedaço da matéria.
      — Na ultima sexta-feira um corpo foi encontrado em um matagal. Os policiais estão periciando o corpo em busca da identidade do assassino.
      Safira sorriu ao ler aquelas palavras. Claro que não vão encontrar nenhuma pista no corpo, a não ser que os mortos comessem a falar. Ela sorriu e seu riso ecoou na solitária cozinha de sua casa.
      Ela tomou seu café da manhã lentamente. Safira não estava com pressa, embora soubesse que se ela se atrasasse para a reunião com seu chefe corria o risco de ser despedida. Mas é claro que isso não a intimidava.
      Safira vestiu um vestido balonê tomara que caia vermelho-vinho, calçou uma sandália de salto e colocou seu colar de safira azul no pescoço. A pedra era lapidada em forma de coração e a corrente era de ouro branco. Fora um presente do seu ultimo namorado que morrera tragicamente em um acidente automobilístico.
      Safira era uma mulher jovem e atraente. Tinha a pele branca e delicada, o cabelo vermelho na altura do seio, olhos verdes e um corpo escultural. Ela tinha apenas 22 anos e trabalhava para um grande agencia de modelos. Ela era a preferida do dono da agencia, Igor.
      Igor era um excelente modelo, quando mais novo. Agora com seus 45 anos dirigi uma das melhores agencias de modelos do país. Apesar da idade, ele ainda exibe o mesmo corpo de quando desfilava: musculoso. Ele não aparentava a idade que tinha, ele parecia ser mais novo. Sem muitas rugas ou fios de cabelo branco.
      Safira entrou em seu carro e dirigiu até a agência onde trabalhava. A reunião com o chefe não a intimidava, ou a deixava nervosa, afinal, ela sabia que não seria despedida.
      Ao chegar ao seu local de trabalho Safira foi direto para a sala do seu chefe, Igor. Ele estava a esperando sentado à sua mesa. Ele estava nervoso.
      — Está atrasada — falou ele olhando o relógio de pulso quando ela entrou na sala.
      — I’m sorry —respondeu Safira, fechando a porta atrás de si. — O que queria falar comigo?
      Igor gesticulou para que ela se sentasse. Safira hesitou um pouco, MS por fim sentou-se na cadeira diante de Igor.
      — Eu não posso mais tolerar seus atrasos — começou Igor. — Só nesta semana você chegou atrasada quatro vezes e já perdeu duas campanhas importantes. Sem falar no desfile que você deixou de comparecer.
      Claro, essas campanhas eram horríveis e eu não iria desfilar usando aquelas roupas bregas jamais! Pensou Safira, e em voz alta disse:
      — Desculpe-me — falou ela, deixando a voz minguar um pouco. — Eu sei que estou causando problema a agencia, sei que não estou fazendo meu trabalho direito, mas eu não consigo mais evitar...
      Ela não completou a frase, foi interrompida por uma lágrima que rolou teatralmente por seu rosto. Igor foi para perto dela e enxugou aquela lágrima. Safira sorriu disfarçadamente.
      — Ei, calma — falou Igor. — Não precisa ficar assim. O que aconteceu?
      — Não foi nada — respondeu Safira, virando o rosto para o lado. — Eu estou bem agora.
      — Aconteceu algo grave não foi?
      Não era a primeira vez que Safira usava um falso problema para manipular o seu chefe. Ele se importava com Safira, mas do que com qualquer uma de suas outras modelos e se sentia mal sabendo que ela estava magoada.
      — Não — falou Safira, fazendo aquela palavra parecer mesmo mentirosa. — Eu só deixei que algumas coisas me afetassem. Mas agora eu estou bem.
      — Não é o que parece.
      As lágrimas que Safira fingia estar segurando começaram a escorrer por sua face. Igor aproximou-se e meio sem jeito tocou em seu ombro para oferecer algum apoio emocional. Safira aproveitou a compaixão dele e jogou os braços por cima de seu pescoço e o abraçou fortemente.  Ele a abraçou desajeitadamente com um braço só.
      — Me leva pra casa? — pediu Safira com um tom meloso na voz.
      —Claro. Jamais permitiria que você dirigisse até sua casa nesse estado.
      E os dois seguiram para o estacionamento. Igor se perguntando o que teria acontecido com Safira. E Safira planejando o que faria com Igor. Ela sorria cada vez que a manchete do jornal voltava a sua memória.
      Fora uma noite perfeita, isso ela não poderia negar. Primeiro um jantar em um restaurante italiano, depois ele a levou para a casa e ela insistiu que ele entrasse. Após alguns instantes de conversa ela o levou para seu quarto.
      Safira propôs a seu acompanhante que praticassem bondage. Ele se negou primeiramente, mas depois de Safira convencê-lo que seria algo legal ele acabou cedendo e a deixou acorrentá-lo à cabeceira da cama. Aquele fora seu maior erro.
      Após saciar os desejos de seu corpo, Safira fez vários cortes no corpo do garoto e apreciou prazerosamente cada gota de sangue que pingava no lençol branco.  A agonia dele fazia ela ter uma estranha sensação de êxtase. E depois de mutilar seu corpo ela finalmente quebrou seu pescoço.
      Safira planejava fazer algo parecido com Igor, só que iria prolongar sua agonia.
      Quando Igor estacionou em frente à casa de Safira ela insistiu para que ele entrasse e lhe fizesse companhia por algumas horas, um pouco sem jeito de negar o pedido de sua modelo favorita, Igor acompanhou Safira até o lado de dentro de sua casa.
      Safira propôs que eles assistissem a um filme para que assim ela pudesse se distrair um pouco. Igor atendeu a esse pedido também. Safira colocou o filme no aparelho de DVD e foi até seu quarto trocar de roupa.
      Safira sabia que poucos homens resistiam a ela e fazia de tudo para que eles realmente não resistissem. Ela vestiu um short jeans curto que exibia suas belas pernas, vestiu uma blusa com um decote em V que deixava à mostra seus volumosos seios, o que ela considerava ser sua maior arma para atrair suas presas. El não tirou o colar de safira do pescoço.
      Quando retornou à sala para assistir ao filme Igor não pode deixar de voltar seu olhar para o decote de Safira. Ela já era uma presa em suas mãos. Fingindo não notar nada, Safira sentou-se ao seu lado. Igor tentou lutar contra o calor que ascendia entre suas pernas. Ela está emocionalmente frágil, não é sensato pensar nisso agora. Ele tentou dizer isso a si mesmo, mas não iria resistir se Safira o provocasse um pouco.
      Ao se passarem 10 minutos em silêncio, Safira voltou-se para Igor e falou:
      — Estou sozinha há tanto tempo... — e deixou a frase morrer.
      Igor lutou para encontrar uma resposta. Não lhe ocorreu nada. Safira viu isso como um passo dado para atacar a sua presa. Ela pegou a mão dele e levou aos seus seios.
      — Está sentindo meu coração? — perguntou ela fazendo uma voz dramática. — Ele está tão vazio. Eu preciso tanto de alguém que o preencha.
      Igor não conseguia pensar direito, não podia pensar em nada além de tomar aquela mulher em seus braços e possuí-la. Não havia mais volta, ele não podia lutar contra o volume que se formara em sua calça. Safira se aproximou e o beijou, fazendo-o ficar ainda mais excitado.
      Instantes depois os dois já estavam nus e Igor sobre Safira, saciando sua fome sexual. Mas para Safira não era o bastante.
      — Vamos pro quarto — falou Safira.
      E então os dois seguiram para o quarto dela, assim como ela havia sugerido. Depois de alguns orgasmos e vários movimentos sobre o colchão, Safira estava sobre Igor, controlando os movimentos, fazendo-o gemer de prazer. Ela pegou uma adaga que deixava sobre o criado mudo e enquanto descia fez vários cortes no peito no rapaz, não profundos o bastante para causar algum dano, mas fundos o bastante para fazê-lo sangrar bastante.
      No mesmo instante em que ele saiu de seu estado de êxtase e sentiu a dor em seu peito ele empurrou Safira para fora da cama. Ela acabou machucando o membro dele ao ser empurrada abruptamente. Ele gemeu novamente, dessa vez de dor.
      Safira não ficou nada feliz ao ser empurrada naquela forma. Ela pegou o saleiro que deixara na cômoda na noite anterior e jogou sal sobre as feridas de Igor, fazendo-o agonizar ainda mais.
      Ele não pode fazer nada. Safira pegou o chicote no criado mudo e o açoitou. Depois de vários açoites Igor finalmente deu seus ultimo suspiro. Safira foi até o banheiro, tomou um banho quente e rápido para tirar o sangue de Igor de seu corpo, depois vestiu roupas limpas e ligou para um antigo amigo.
      — Tenho trabalho para você — falou ela quando ele atendeu.
      — Estou indo — respondeu ele e desligou o telefone.
      O “ele” se chamava Rodrigo e conhecia Safira desde que eram apenas crianças. Ambos cresceram e desenvolveram um tipo estranho de “sede por sangue”. Ambos eram meio psicopatas.
      Rodrigo estacionou sua caminhonete atrás do carro de Igor. Ele entrou na casa e embrulhou o corpo sem vida de Igor nos lençóis sujos de sangue e depois o colocou na caminhonete. Safira pegou as chaves do carro de Igor e dirigiu seguindo Rodrigo até as margens do rio próximo a casa deles.
      Rodrigo quebrou os dentes de Igor com uma pedra e depois queimou o corpo junto com os lençóis ensangüentados. Safira assistiu a tudo em absoluto silencio. Após terminar Rodrigo foi cobrar por seus serviços.
      — Sabe — começou ele —, eu gosto muito de você, de verdade, mas há muito tempo eu venho limpando a sua sujeira a troco de nada. Está na hora de você me pagar.
      — O quê? — pela primeira vez em muitos nãos Safira ficou assustada. — Do que você está falando?
      Ele se aproximou e prendeu Safira em uma árvore com seu braço direito. Ela não escaparia dali com facilidade.
      — Disso — falou ele e começou a beijar o pescoço dela.
      Safira tentou se livrar de Rodrigo, mas ele era muito forte. Todas as suas investidas eram vãs. Enquanto segurava Safira pelo pulso com a mão direita ele tirou sua calça com a esquerda. Safira sabia que não haveria chance de escapar. Ela tentou lutar para manter-se calma e tentar escapar daquela situação.
      Rodrigo a jogou no chão e em seguida rasgou o vestido que ela usava. Arrancou sua calcinha e a possuiu. Safira chorava ao receber aquele membro de si. Ela não estava fisicamente pronta para isso, então ela sentiu uma forte dor. Safira tentou ainda pela ultima vez se livrar de Rodrigo atingindo-o na cabeça com uma pedra. Nada aconteceu.
      Após se saciar Rodrigo pegou a mesma pedra afiada com que quebrara os dentes de Igor e passou pelo pescoço de Safira. Rodrigo queimou também o corpo de Safira, deixando-o lá ao lado do corpo de Igor.
      Enquanto Rodrigo se afastava, sois corpos sem vida queimavam às margens de um lago. Duas vitimas de maníacos sedentos por sangue...

Ansiedade



Ansiedade...
Isso sim pode atrapalhar qualquer coisa que você vá tentar fazer. É uma sensação desconfortável de querer que um determinado momento chegue logo, e parece que quanto mais você anseia por algo mais as horas teimam em não querer passar...


Rita Cruz


(…) 
Clary: Amar é destruir. Eu me lembro.
Jace: Pensei que essa parte do meu coração estivesse quebrada. Para sempre. Mas você… 
Cidade das Cinzas (Cassandra Clare)  Cap. 09 pag. 172

Ciúmes..?



A dor de ver alguém de quem você gosta com outra pessoa é horrível, é como se tivessem atirado uma lança e acertado em cheio em seu coração, algo que machuca mais do que eu imaginei que poderia ser capaz...
É muito mais além do que um ciúme doentio, é algo que realmente machuca, mas não é uma dor física, o que só a torna pior, mas não se pode fazer muita coisa a respeito. Pode-se? Há certas coisas que são impossíveis evitar serem vistas, a única coisa que se pode fazer é tentar suportar vê-las. É, nem sempre a vida é justa...


Rita Cruz

Memories



Tudo o que é capaz de te destruir está dentro de você mesmo, guardado em algum lugar da sua mente. Memórias... Essas sim são capazes de te ferir várias vezes, trazer de volta tudo o que você já teve e que sabe que jamais terá de volta...
O tempo é capaz de apagar as lembranças também? Não. As memórias jamais desapareceram, mas o tempo será capaz de fazer a dor que vem com essas recordações desaparecer e depois tudo o que fica é a saudade de um passado distante, memórias mortas que não são mais capazes de te machucar...

                                                           Todas as minhas lembranças mantêm você próximo”.
Memories – Within Temptation


Rita Cruz

Lágrimas



Lágrimas tomam conta de mim; lágrimas de amargura, lágrimas de tristeza, lágrimas de raiva, lágrimas que me destroem...
Lágrimas que não descem dos olhos, mas que transbordam em meu coração e o afogam em um mar de sofrimento.
Lágrimas não expostas, lágrimas não compreendidas, lágrimas que ferem a alma como adagas afiadas.
São apenas lágrimas que aos poucos me matam.


Rita Cruz

Just one pet?

      


Um cachorro, um animal de estimação... É assim que podemos definir aquele que está sempre com você? Com o tempo, ele se torna quase um membro da família e um amor recipocro surge dessa relação, então não dá pra dizer que era apenas um simples animal de estimação.
      Era sempre ele quem me esperava com os olhinhos alegres na porta de casa quando eu chegava da escola, eram sempre aqueles olhinhos pidões que me acompanhavam em todas as refeições, era ao meu lado que ele dormia e até quando eu estava triste era ele quem colocava a cabeça sobre minhas pernas e ficava ali comigo, enquanto eu chorava... Agora ele não está mais aqui.
      Eu sempre imaginei esse momento, sempre soube que uma hora ele chegaria, mas nunca imaginei que seria assim, nunca imaginei que seria tão depressa. Mesmo sendo apenas um animal — e é claro que não era apenas isso — você cria laços com seu bichinho de estimação e ele se torna um membro da família.
      A dor é muito forte, machuca bastante. As fotografias servem para me lembrar de tudo o que tive e que agora não está mais comigo e nunca mais estará... Quando eu entro na área, onde ele costumava dormir, a primeira coisa que faço é olhar para a caminha dele, onde ele costumava dormir, eu sempre fiz isso e antes encontrava um belo cachorrinho muito alegre e sapeca deitado ali e ele sempre levantava os olhinhos e abanava o rabo a me ver chegar... Mas agora, tudo o que restou foi sua cama vazia e muitas memórias...
      Eu sei, eu era bastante insensível e muitas vezes não lhe dei seu devido valor, mas isso também mexeu comigo, também me deixou triste e até arrependida de não ter sido mais legal com ele. As pessoas me perguntam se eu estou bem e a resposta mais sensata seria: Não. Mas a verdade é, de fato, eu não estou bem, mas eu vou ficar. Nada dura para sempre e a dor que fica é a prova disso, afinal essa é a única certeza da vida, a morte. Eu prefiro pensar que a morte é apenas a liberdade pela qual todos lutam em vida, não é o fim, é o começo de alguma coisa que eu ainda não sei o que é, e porque teria que ser diferente com nosso animais?
     
      Lupi, você foi o melhor amigo que eu pude ter, o melhor companheiro e aquele que jamais teria me abandonado, eu sei que se você pudesse teria ficado um pouco mais. A única coisa que lamento é não ter podido me despedir... Queria ter sido uma amiga melhor para você.


Rita Cruz

Reunião de Garotas - e Garotos - Parte II

     Antes de vocês lerem essa história, eu lhes recomendo que leiam:  Reunião de Garotas.  



      Eu sabia que a ideia era estúpida desde o começo, e mesmo assim, resolvi vir com todos aqueles idiotas para esta maldita casa abandonada.
      — Não seja medrosa, Samara — falara Isabella quando eu me recusei a vir. — É apenas uma casa, só isso. O que aconteceu lá há dez anos não vai acontecer novamente.
      E, no entanto, acontecera exatamente a mesma coisa. Não devia ter deixado aquelas palavras me convencerem tão facilmente. Eu estava assustada e pressentia o perigo e não fiz absolutamente nada para impedir que aquele grupo entrasse na casa.
      Éramos 12 no total, 8 garotas e 4 garotos. Melody, Samanta, Kate, Jennifer, Isabella, Alice, Mayara, Guilherme, Martim, Henrique, Leonardo e eu. Todos combinaram de nos encontrarmos em frente à Casa Abandonada às sete horas na noite de sábado. Todos estavam com lanternas e uma mochila com mantimentos. Passaríamos o fim de semana inteiro ali.
      Há exatamente dez anos atrás essa casa fora palco de um terrível assassinato em serie. Oito garotas que estavam reunidas para uma típica reunião de sábado foram assassinadas brutalmente. Ninguém nunca soube o motivo das mortes ou quem as executou. Após o trágico massacre a família que morava no local deixou a casa e ninguém nunca mais soube seu paradeiro. Desde então ninguém jamais ousou entrar na casa. Os vizinhos foram deixando suas casas alegando que eram visitados por um mau espírito que morava na casa. Eu particularmente, nunca acreditei muito nesse tipo de coisa, mas esse local sempre me deixara apreensiva.
      A casa parecia ser mais velha do que realmente era. As portas haviam sido destruídas por cupins e as janelas estavam cheias de ferrugem. O mato era bastante alto no quintal da casa. Tudo parecia fazer parte de um cenário para um filme de terror. Tudo estava bastante desértico.
      — Quem quer fazer as honras? — perguntou Mayara.
      — Pode deixar que eu vou primeiro —falou Henrique tomando a frente de todos e tirando a porta das dobradiças com um chute.
      Ele iluminou o interior da casa com sua lanterna ainda do lado de fora. Ele parecia examinar o local. Depois de alguns instantes em silêncio ele entrou na casa. Todos tiraram suas lanternas da bolsa e entraram na casa em seguida.
      Repetindo o que disse antes: O local parecia cenário de um filme de terror. Toda a mobília que ali presente estava mofado. Os moveis de madeira comidos por insetos e apodrecidos, as paredes estavam negras de mofo e o chão coberto de terra (não apenas poeira, terra mesmo). O cheiro era a pior parte. Era algo parecido com decomposição.
      — E então, quem quer explorar o local? — perguntou Leonardo com uma empolgação doentia na voz.
      — Tô dentro! — respondeu Isabella.
      Eu a odiei por ter topado isso. Eu teria que ir com ela, afinal ela era minha melhor amiga e eu não ficaria ali com os amigos dela, cujos alguns eu nem se quer conhecia direito.
      Eu peguei segurei a minha lanterna com mais força do que o necessário e fui para onde Isabella estava, parando exatamente ao seu lado. Respirei fundo e disse:
      — Eu vou com vocês.
      Mais outras duas pessoas concordaram em ir conosco: Guilherme e Kate. Alice era a melhor amiga de Kate, mas acho que ela não queria fazer parte desse nosso tour pela casa. Nós subimos as escadas, os degraus rangendo a cada novo passo.
      Os outros ficaram no andar de baixo, alguns analisando os quadros na parede e outros vendo os cômodos.
      O corrimão da escada estava gasto e cheio de insetos mortos. Leonardo estava na frente, ele parecia não temer nada. Claro que não havia o que temer, afinal era apenas uma casa. Certo? Errado. Todo aquele local despertava em mim uma sensação estranha, como alguma espécie de premonição.
      Ao chegarmos ao topo da escada nos deparamos com um pequeno corredor que levava aos quartos assim eu supus.
      — Vem comigo — falou Isabella me puxando pelo pulso até um dos quartos.
      O local ainda parecia estar da mesma forma que fora deixado há uns 10 nos atrás. Havia um criado mudo com um abajur e na cama parecia haver coisa embaixo dos lençóis que já deveriam ter sido brancos. Algo em uma cor marrom cobria o lençol. Eu caminhei até lá e puxei o lençol, havia alguns travesseiros cobertos com o mesmo liquido marrom que o lençol. Isso não parecia fazer sentido. Acima da cabeceira havia uma folha de caderno. Iluminei com a lanterna e li o que estava escrito.

 


      — E a lâmina beijou seu pescoço. Um beijo mortal — li novamente em voz alta, sem me lembrar que não estava sozinha no quarto.
      — O que você disse? —perguntou Isabella.
      — Era o que estava escrito aqui —apontei o local com a lanterna. — Não parece fazer muito sentido.
      Isabella leu a folha várias vezes, talvez estivesse tentando achar algum sentido naquelas palavras, mas assim como eu, não os encontrou. Foi então que ouvimos o primeiro grito. Havia vindo do quarto ao lado, corremos para lá para ver o que havia acontecido.
      Fora Leonardo quem gritara, ele estava na porta no quarto imóvel, estupefato. Eu iluminei o local com a minha lanterna. Isabella gritou ao meu lado. Eu estava entorpecida demais para conseguir gritar.
      A cena que meus olhos viam era horrível: Guilherme fora enforcado com uma corda negra que estava presa ao telhado. Então ouvimos o segundo grito, dessa vez vindo do andar debaixo. Eu corri para lá, e ouvi passos atrás de mim. Isabella e Leonardo também haviam acordado de seu transe.
      Samanta estava chorando, dava para ver o pavor em seus olhos. A maioria estava reunida na cozinha, eu entrei no local temendo ver o que imaginava que veria. Havia mais um corpo pendurado no teto, era Alice. Kate gritou e seu grito em seguido tornou-se um lamento profundo pela amiga e seu choro tornou-se desesperado.
      Melody correu até a porta, que incrivelmente estava de volta ao seu lugar. Ela tentou puxá-la para abrir, mas nada aconteceu. Henrique foi até lá e chutou a porta novamente, uma, duas, três vezes e nada aconteceu.
      — Mas que porra é essa! — bradou ele.
      Todos começaram a se desesperar, alguns apenas choravam outros xingavam e alguns procuravam outras saídas. Nada disso levaria a algum lugar.
      — Eu sabia que isso era uma má ideia — reclamou Samanta.
      — Eu devia ter ficado em casa — falou Mayara.
      — Ela não merecia um fim tão terrível assim — chorou Kate.
      Claro que todo aquele lamento e arrependimento não nos tiraria daqui. Não havia ninguém racional nesta casa? Claro que não. Todos estavam tomados pelo desespero e angustia. Alguém precisava fazer alguma coisa. Com desespero não encontraríamos nenhuma solução.
      — Por Deus fiquem quietos! — gritei. Todos se calaram e me encararam simultaneamente. — Vocês não vêm que nada disso vai ajudar? Precisamos ser racionais e encontrar uma solução, e não nos deixarmos sermos tomados pelo desespero.
      — E o que você pretende fazer, Einstein? — zombou Martin.
      — Encontrar respostas, primeiramente — respondi. — Deve ter alguma pista nessa casa.
      — A Samara tem razão — concordou Henrique — precisamos encontrar algo que nos ajude a entender o que está acontecendo.
      — Podemos nos dividir em dois grupos e procurar algumas pistas — falou Leonardo.
      — Sim, mas é importante que ninguém fique sozinho. Isso pode ser arriscado — falei e todos assentiram.
      Depois de algum tempo os grupos foram divididos da seguinte forma: Grupo 01: Mayara, Melody, Jennifer, Samanta e Henrique. Grupo 02: Kate, Martim, Isabella, Leonardo e eu.
      O Grupo 01 ficou no andar debaixo e nós, do Grupo 02, fomos para o andar de cima. Subir aquelas escadas novamente me fez ficar um pouco nauseada. Todos pareciam um pouco apreensivos.
      Kate, Isabella e eu fomos para o quarto onde eu havia encontrado aquele bilhete esquisito com nomes riscados. Martim e Leonardo foram para o quarto onde Guilherme havia sido morto.
      Eu fui examinar a cômoda ao lado da cama. Havia um enorme espelho em cima dela e maquiagem. Quem dormia aqui devia ser alguém muito vaidosa. Não havia nada ali. Eu tirei as roupas intimas da gaveta e as joguei no chão, havia uma espécie de diário ali. Eu abri em uma das páginas aleatoriamente.


                                                                   26/03/2011
Estou tão cansada das pessoas me dizendo o que fazer de todos tentarem controlar a minha vida, estou farta das pessoas fingirem que se importam. Ninguém se importa, ninguém pode me ver enquanto sangro, ninguém me estendeu a mão enquanto eu caia, mas eu juro que farei cada um deles pagar por isso. Cada um, todos irão conhecer o gosto amargo de ter suas vidas arrancadas. Eu juro!


Havia uma gota de sangue embaixo da folha. Abri a contra capa do diário e li o nome ali escrito: Cássia. Era o nome da antiga moradora da casa. Ela havia escrito isso há dez anos, no ano do massacre. Eu ergui a cabeça e vi pelo reflexo do espelho uma sombra aproximar-se de Kate.
      — Kate, cuidado! — gritei, mas já era tarde demais.
      Sua garganta havia sido cortada e a sombra havia desaparecido deixando apenas uma frase grafada no chão, com o sangue de Kate. Tudo isso havia acontecido rápido demais.


E a lâmina beijou seu pescoço, um beijo mortal.


Então era isso que aquelas palavras queriam dizer, era assim que as garotas haviam sido assassinadas. Mas isso ainda não fazia sentido. E as palavras no diário? Se a Cássia queria se vingar porque ela também estava morta? Fora ela quem matara suas amigas? Isso parecia tão doentio.
      Outro grito, vindo do quarto ao lado. Corri até lá e presenciei outra cena lamentável: Leonardo caído ao chão em uma poça com seu próprio sangue. Havia um corte em sua garganta e a mesma frase escrita no chão.
      — Mais duas mortes e ainda não descobrimos nada! — gritou Isabella ao meu lado.
      Foi então que eu me lembrei do diário em minha mão. Eu abri na pagina correspondente ao dia do massacre. Dia 07/05/2011. Fora o ultimo dia que ela escrevera em seu diário.


07/05/2011
Hoje é o dia, o dia que colocarei em prática todo o que venho planejando há meses, o dia em que me vingarei de todos aqueles que simplesmente ignoraram quando eu clamei por socorro. Um a um, cada um deles vai cair tão fundo assim como eu cai, vão conhecer as mesmas dores que eu conheci, irão sofrer uma morte terrível e lamentar por terem pisado em mim. Hoje todas elas vão morrer!


Cássia tinha uma mente muito doentia. E sim, fora ela a autora dos assassinatos, mas porque ela estava morta também? Essa era a parte que não fazia sentido. Mas eu não tinha tempo para tentar descobrir isso, outras duas pessoas haviam morrido e nosso estava se esgotando.
      — O que você descobriu? — perguntou Martim.
      — Que quem matou todas foi a Cássia — comecei. — Ela planejou tudo. A única coisa que eu não entendo é porque ela se matou no final.
      — Você acha que ela se matou? — perguntou Isabella.
      — Não consigo imaginar outra explicação.
      Nós três descemos as escadas e nos deparamos com todos em volta de mais um corpo. Era Melody. Ela estava apenas com seu sutiã e seu short jeans preto. Havia algo escrito em sua barriga.

Até meia noite, todos vocês irao morrer!

Um arrepio percorreu minha espinha após eu ler aquelas palavras.
      — 22:12 — falou Henrique após conferir seu relógio de pulso.
      Tínhamos apenas algumas horas para tentar descobrir o que estava acontecendo e estávamos realmente longe de descobrirmos. A única coisa que sabíamos era que Cássia havia matado todas as suas amigas.
      — O que nós vamos fazer agora? — perguntou Samanta, aos prantos.
      — Eu não sei — respondi, tentando poder acreditar em alguma coisa. — Podemos ficar juntos e tentar continuar vivos. Temos pouco menos que duas horas para fazer isso.
      — Já tentamos fazer isso e de nada adiantou! — bradou Mayara.
      — O melhor que podemos fazer agora é manter a calma — falou Henrique, apoiando-me. — Todo esse desespero não vai levar a nada.
      — Vá pro inferno com a sua calma! — gritou novamente Mayara. — Eu vou sair daqui, custe o que custar.
      Ela foi até a porta e começou a puxá-la, sem resultados. Após um cinco minutos nesse agonizante desespero ela finalmente desistiu e despencou no chão, chorando.
      — Tem que haver alguma coisa que possamos fazer — falou Mayara, soluçando.
      — Ainda podemos lutar — respondi
      — Contra um inimigo invisível? — falou Jennifer, cheia de sarcasmo. — Você vai longe nessa sua luta.
      — Podemos ao menos tentar — falei. — Não vamos perder nada se o fizermos.
      — E o que você planeja fazer? — perguntou Martim.
      — Eu li alguns livros de ocultismo e sei como chamar um fantasma — respondi.
      O som de gargalhadas ecoou na sala. Claro que eles achariam essa história absurda, até a algumas horas atrás eu também achava.  Claro que eu já vira coisas estranhas o suficiente por uma noite para começar a acreditar em espíritos maus e fantasmas. Todas as histórias são reais. Aprendi isso da pior maneira possível.
      — Você é louca! — bradou Mayara novamente. — Eu vou sair daqui, não vou virar vítima de nenhum assassino maluco ou participar de um culto esquisito.
      Ela levantou-se e voltou-se para a porta novamente e antes que sua mão pudesse alcançar a maçaneta uma lança metálica surgiu da porta, atravessando-a e acertando em cheio o peito de Mayara. Seu sangue respingou nas paredes e até acertou o rosto de Samanta que estava próxima a ela. Vários gritos ecoaram no local.
      Eu permaneci imóvel, assistindo a tudo imóvel. Estava em choque. Era incrível como isso ainda podia me afetar, mesmo depois de tudo o que eu vira aqui, depois de tudo pelo que passei.
      — Vocês acharam que seria tão fácil assim saírem da minha casa? — falou uma voz estranha vinda do outro lado da porta. Não parecia fantasmagórica ou mesmo demoníaca, era apenas assustadora. — Eu tenho até meia noite para me divertir com vocês. Até lá, vocês serão todinhos meus!
      E um silencio mortal tomou conta da sala quando a luz desapareceu. Todos pareciam abalados com as palavras da voz misteriosa. Isso já estava se tornando um jogo terrível.
      — E o que você sugere agora, caça-fantasmas? —perguntou Jennifer, cheia de sarcasmo.
      — Ainda podemos chamar o fantasma de Cássia para o local e tentar prendê-la. Teremos apenas uma chance, pois se ela escapar poderá matar todos nós.
      — Vamos morrer mesmo de um jeito ou de outro — falou Jennifer, dando de ombros. — Que alternativa temos?
      — Do que nós precisamos? — perguntou Henrique.
      — Primeiramente de algo para prepararmos tudo — comecei. — Precisamos de água benta, de algo que pertenceu a Cássia — falei, mostrando o diário —, de fogo e o mais importante: do sangue de uma virgem.
      Todos os olhares femininos daquela sala voltaram-se para mim. O sangue de todas ali seria puro o bastante para prender a Cássia por um bom tempo.
      — Tudo bem — falou Samanta — eu cuido dessa parte.
      — Ótimo. Então Henrique, faça uma fogueira e Jennifer encontre uma bacia.
      Todos fizeram suas respectivas tarefas e eu realizei o ritual. Ao terminar joguei tudo na fogueira e um circulo de fogo formou-se no local. Mas nenhum fantasma apareceu.
      — Devo admitir que fiquei impressionada — falou Jennifer. — Mas é só isso? E onde está a parte em que o fantasma fica preso e todos estamos livres?
      — Quer dizer que eu deixei você fazer um corte horrível na minha pele pra nada? — indignou-se Samanta.
      Eu não estava entendendo. Ela deveria ter aparecido no centro, ficado presa ali. Mas porque não ficou? O que aconteceu de errado?
     — Eu não entendo — falei encarando o fogo diante de mim e o centro do circulo vazio. — Era pra ela estar aqui.
      — Mas não está! — gritou Samanta. — E o que vai acontecer agora? Vamos todos morrer? É isso?
      — Devemos manter a calma e tentar encontrar outra solução — falou Martim colocando as mãos nos ombros de Samanta.
      — Eu vou até o banheiro — falei já sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos.
      Peguei minha lanterna e corri até o banheiro. Eu fora tola e insana, devia imaginar que isso jamais daria certo, eu só os fizera perder um tempo precioso. E agora? O que eu vou fazer? Existem tantas pessoas que querem ter visões e salvar pessoas, querendo ter um contato com alguma coisa sobrenatural, mas eu não. Não eu.
      Eu ergui minha cabeça para o espelho. A lanterna projetava uma sombra estranha atrás de mim. Fiquei encarando a sombra por alguns segundos até perceber que ela não era minha. Pulei de susto quando a sombra começou a falar.
      — Por favor, não tenha medo — falou a sombra de uma forma doce. — Eu estive esperando por esse momento há muito tempo, estive esperando pela sua vinda. Estive esperando por você.
      —Por mim? —perguntei, sobressaltada.
      — Sim, por você. Há dez anos eu espero para ser liberta, espero por alguém que ponha fim nessa maldição, para que eu possa finalmente descansar. Estive esperando por alguém que realmente possa matar Cássia.
      E de repente tudo aquilo fez sentido para mim. Tudo finalmente se encaixou, todos os detalhes, todas as coisas que vinham acontecendo. Não fora por acaso que eu encontrara o diário, não fora por acaso que o ritual para chamar o fantasma de Cássia dera errado. Desde o momento em que cheguei aqui, toda aquela intuição de que havia algo maligno aqui fazia sentido agora. Fora Isla, ela me ajudara desde o começo e estava presa em uma maldição.
      Eu olhei para o espelho e pude ver tudo o que acontecera naquele dia, há dez anos. Vi todas as mortes e vi como Isla tentara acabar com Cássia. Sim, as duas haviam morrido, mas seus espíritos jamais puderam descansar. Uma escolha prendera as duas aqui para sempre.
      — Ela se recusava a partir — começou a explicar o fantasma de Isla —, não queria abandonar esse mundo, não queria descansar. Eu sabia que se ela ficasse coisas horríveis iriam acontecer então eu fiquei aqui, para proteger todos aqueles que entrassem na casa, para protegê-los da forma que não pude proteger minha irmã e minha melhor amiga. Tudo estaria bem, contanto que ninguém entrasse na casa, então eu comecei a assombrar os vizinhos para que fossem embora e por 9 anos tudo ficou bem, até que vocês apareceram. Eu tentei impedi-los de entrar, tentei alertá-los colocando aqueles pressentimentos em sua cabeça, mas não adiantou.
      Eu tentei processar toda aquela informação, mas era coisa demais. Absorvi o máximo que pude e então disse:
      — Você disse que eu poderia por fim na maldição... Mas como eu posso fazer isso?
      — Isso eu não posso lhe dizer. A única coisa que posso lhe falar é que a resposta está dentro de você.
      E ela desapareceu da mesma forma que apareceu: misteriosamente. Mas isso é porque ela é um fantasma. Pensei. E ela tinha que se despedir com uma frase tão clichê quanto essa? “A resposta está dentro de você” e o que isso queria dizer afinal? Que se eu escutasse meu coração eu conseguiria matar um fantasma? Isso tudo parecia a coisa mais idiota que já escutara na vida.
      Eu voltei para a sala e todos ainda estavam reunidos no local. Todos pareciam mais calmos agora. Mas ainda estavam apreensivos.
      — Algum novo plano genial? — perguntou Jennifer.
      — Nenhum — falei brandamente.
      Martim caminhou até o lado de Jennifer e colocou as mãos em seus ombros.
      — Não seja tão dura com ela — falou ele suavemente —, ela fez o melhor que pôde, ninguém poderia imaginar que daria errado.
      Samanta levantou-se e caminhou até a porta.
      — Isso tudo está acabando comigo! — gritou ela e em seguida chutou a parede ao lado da porta.
      No instante seguinte tudo pareceu se passar como um flash. O teto sobre a cabeça de Samanta despencou, esmagando-a e um pedaço de concreto acertou o espelho da parede oposta fazendo vários cacos afiados se espalharam, voando em todas as direções. Martim jogou-se no chão levando Jennifer com ele para evitarem os vidros afiados. Vários pedaços de vidro acertaram Isabella que estava próxima a escada. Alguns pedaços transpassaram por seu pescoço, acertando-lhe a artéria.
      Eu assisti a tudo, estupefata, próxima a entrada da cozinha, onde estava a salvo dos vidros e do desmoronamento. Henrique estava próximo a mim. Sua expressão exibia medo e espanto. Tudo acontecera rápido demais.
      Eu fora tirada de meus devaneios pelos pavorosos gritos de dor de Jennifer. Ela estava realmente muito ferida. Sua mão estava repousada sobre a perna direita. Por favor, que não seja nada grave demais, falei para mim mesma, um pedido secreto a forças invisíveis.
      Eu me aproximei dela e examinei o corte. Sangrava bastante. Não fora profundo demais para causar algum sério dano, mas fora grande o bastante para deixar uma infecção se não fosse tratado e causar muita dor.
      — Tira a camisa — falei para Henrique, mais como uma ordem que como um pedido.
      — Tá brincando né? — protestou ele.
      Eu apenas o encarei em silêncio.
      — Está bem — falou ele tirando a camisa.
      Eu peguei a camisa e rasguei um pedaço grande o suficiente para fazer um torniquete. Eu amarrei na perna de Jennifer, um pouco acima do corte. Isso impediria uma grande hemorragia até podermos procurar por ajuda.
      — O que vamos fazer agora? — perguntou Martim.
      — Eu preciso encontrar esse maldito fantasma! —bradei — Vocês deveriam tentar escapar.
      — De jeito nenhum! — falou Henrique. —Eu vou com você.
      — É arriscado demais, e precisamos de toda a ajuda possível para tirar a Jennifer daqui.
      —Não vamos conseguir sair daqui, a menos que essa maldita fantasma esteja morta! Você não tem outra opção.
      No mesmo instante em que ele disse isso, a porta de entrada abriu-se com um baque.
      — Olá queridos! — falou uma forma sombria vinda do espaço aberto, ela usava preto e sua voz soava um pouco rouca. Era Cássia. — Agora a diversão vai começar!
      — Meu Deus! — falou Jennifer, também reconhecendo o fantasma.
      — Pode chamá-lo o quanto quiser, mas ele não poderá salvá-los — falou a Cássia fantasma com um sorriso maligno no rosto.
      — O que você quer? — perguntou Martim.
      — Apenas me divertir um pouquinho.
      Eu ouvi Henrique gritar e vi um arranhão em seu peito. Fora Cássia quem fizera isso? Mas como? Então a resposta formou-se em minha mente: Ela não era apenas um fantasma, tinha um demônio em sua alma, o que a tornava tão poderosa.
      — Ah qual é? — reclamou ela. — Não tem a menor graça se vocês não tentarem me matar.
      Martim levantou-se e pegou uma estaca de madeira que estava no chão. De onde ela viera? Ele a segurou firmemente na mão e caminhou na direção de Cássia.
      — Isso está cada vez mais divertido!
      Martim tentou acertá-la com a lança, mas é claro que não acertou. Ela fez a lança sair de suas mãos — sem nem ao menos tocá-la — e eu a vi vindo em minha direção. Estava rápido demais para tentar desviar. Era o meu fim. Eu fechei os olhos. Eu esperei pela dor, mas ela não veio, então abri os olhos e vi Henrique caído diante de mim. Tudo acontecera muito rápido.
      A lança transpassara seu peito. Ele havia mesmo se sacrificado por mim, para me salvar? Isso tudo me tocou de uma forma estranha e ao mesmo tempo profunda. Ele morrera por mim. Isso não estava certo. De repente, uma forte raiva tomou conta de mim e antes que eu percebesse comecei a caminhar na direção de Cássia. Um ruivo de raiva passava pela minha garganta. A raiva era a única coisa que eu sentia no momento.
      Sem saber bem o motivo, eu aperto o pescoço de Cássia e ela não reage. Ela começa a retorcer-se de dor ao ser estrangulada e quando seu ar se acaba ela explode em um chama negra.
      — Então acabou? — perguntou Martim — É só isso?
      Fora fácil demais, e eu já assistira filmes de terror o bastante para saber que os vilões nunca morrem assim tão fácil.
      — Mas esse é mesmo o fim — falou uma voz familiar. Era o fantasma de Isla.
      Ela estava vestida com um vestido braço e seus pés não tocavam o chão. Ela estava envolta por uma luz ressonante que parecia divina. Aquela visão era tão sublime.
      — Acabou. Você me libertou e mandou Cássia para seu descanso eterno, não em paz, mas agora todos estão livres.
      E ela desapareceu na luz que a envolvia. Acabou? É mesmo o fim? Tudo parecia tão surreal agora, mas no fundo fazia algum sentido: “A resposta está dentro de você” fora o que Isla falara e a raiva que estava dentro de mim me fizera conseguir matar Cássia, por mais estranho que tudo parecesse, fazia sentido.
      — Estamos livres, podemos ir agora — falou Jennifer e Martim a ajudou a levantar.
      Nós dois a ajudamos a caminhar para fora daquela casa. Estava tudo acabado, afinal. Por mais que eu sentisse dor pelas pessoas que haviam morrido ali, estava aliviada por poder sair daquele local.
      Nós três meses seguintes, Jennifer, Martim e eu ficamos muito próximos, éramos muito amigos. Nada melhor que situações extremas para unir as pessoas.
      Estávamos no cinema de um shopping assistindo a um filme de terror. Fomos para a praça de alimentação em seguida e na mesa que nos sentamos eu vi uma mensagem escrita, com o que parecia ser ketchup:  “E a lâmina beijou seu pescoço...” Jennifer, Martim e eu trocamos um olhar assustado.
      Será que havia mesmo acabado?


Personagens:
Mayara     - Mayara
Isla           - Melody
Ana          - Alice

Lorrane    - Kate
Débora    -  Jennifer
Sara         - Samanta
Karine      - Isabella
Samara      - Samara

Maciano    - Martim
Douglas    - Guilherme
Antônio    - Henrique
Leonardo - Leonardo



Rita Cruz


 

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