Pacto dos alunos

A aula de filosofia arrastava-se por minutos intermináveis. Todos os alunos sentados ao fundo da sala — Douglas, Graziela, Julia, Rayssa e Wendy — estavam incrivelmente entediados.
— Eu juro que se pudesse matava esse professor! — reclamou Julia.
Douglas e Wendy trocaram um olhar cúmplice. Wendy olhou para Julia e disse:
— Cuidado com o que você deseja.
Um tremor percorreu a espinha de Julia. Ela sempre achou Wendy um pouco pavorosa.
Wendy era uma garota meio esquisita. Sempre usava roupas pretas e uma maquiagem incrivelmente pesada. Seus gostos musicais e literários eram pouco comuns. Ela gostava de bandas vampirescas e escritores góticos.
— O que você quis dizer com isso? — perguntou Rayssa, temendo um pouco a resposta que viria a seguir.
— Quer dizer que vocês precisam vir comigo à sala dos professores quando as aulas acabarem — respondeu Wendy.
Rayssa e Julia trocaram um olhar. Ambas estavam com medo de descobrir o que Wendy faria, mas no final acabaram concordando.
Após todas as seis aulas acabarem, aquele grupo de amigos se reuniu em frente à escola.
— Esperem-me aqui — falou Wendy secamente e depois voltou à escola.
Vários minutos depois Wendy retornou. E para seus amigos ela disse:
— Podemos entrar agora.
— E eles vão nos deixar entrar? — perguntou Graziela. — Não há mais ninguém ali.
— Exatamente — respondeu Wendy com um tipo de sorriso sinistro no rosto. — E é por isso que nós vamos.
Os cinco alunos entraram na escola deserta. Não havia sinal nenhum de vida ali.
— Onde estão todos? — perguntou Rayssa.
— Estão dormindo — respondeu Douglas com o tom seco que Wendy usara antes.
Douglas e Wendy vinham planejando esse momento há meses. Eles queriam se livrar de alguns de seus professores. Eles desligaram as câmeras do colégio e amarram os professores no enorme pátio da escola. Sim, eles eram bem malucos.
— Agora é a nossa vez de ensinarmos algo a eles! — falou Wendy, novamente com seu sorriso perverso no rosto.
Eles eram seis no total: Galvão, Divino, Rubens, Patrícia, Consuelo e Roberto, respectivamente, professores de: Filosofia, Matemática, História, Inglês, Sociologia e Física. Todos estavam presos e inconscientes.
— Vocês são loucos, não é? — perguntou Julia após ver toda aquela cena.
— Ah vai me dizer que não está nem um pouquinho a fim de se divertir? — a voz de Wendy agora era calma e um pouco infantil.
— Não desse jeito! — falou Rayssa.
Wendy deu um soco no ar e bateu o pé como uma criança mimada faria ao ser contrariada. Ela virou-se para Douglas e disse:
— Eu sabia que seria um erro chamá-las.
Douglas inclinou-se para Wendy e disse ao seu ouvido, para que apenas ela ouvisse:
— Talvez possamos ficar entediados após acabarmos com os seis.
Wendy sorriu e apenas concordou com a cabeça, um gesto que só Douglas pode ver. Uma nova cena se passou pela cabeça de Wendy: Julia e Rayssa caídas em uma poça com seu próprio sangue. Ela não pode deixar de sorrir ao pensamento.
Todos os cinco alunos sentaram-se e esperaram pacientemente até todos os seus “amados” professores acordarem.
— Ah que bom que vocês resolveram se juntar a nossa festinha! — falou Wendy levantando-se, após todos estarem despertos.
A professora Patrícia foi a primeira a perceber que estava amarrada. Ela disse:
— Mas o que é isso?
— Só vamos dar uma aula a vocês — falou Douglas. — Só isso.
— Primeira aula: Biologia! — falou Wendy com uma lâmina na mão.
Ela aproximou-se devagar da professora Consuelo. Todos os olhos se voltavam para ela agora. O que ela ia fazer? O que aquela maluca tinha em mente? Coisas boas não poderiam ser. A mente de Wendy era doentia e perversa.
— Primeira pergunta... — falou Douglas, interrompendo a frase para que Wendy continuasse.
— A artéria braçal ramifica-se em outras duas. Quais são elas?
— Mas o que é isso? — protestou Consuelo. — É claro que eu não tenho obrigação de responder a nenhuma pergunta sua! E me tira daqui!
Douglas acionou um timer e disse:
— Você tem apenas um minuto.
Consuelo olhou incrédula para seus alunos. O que se passava na mente deles para estarem fazendo tudo aquilo? Todos estavam confusos e com medo.
— Seu tempo esgotou — falou Wendy após o timer parar.
Ela passou a lâmina no braço da professora, exatamente onde passava a artéria braçal. Consuelo estava com os braços para cima, presos a uma corrente. Wendy não teve dificuldades para encontrar a artéria e rompe-la.
Douglas e Wendy sorriram ao ver o sangue jorrar do braço da professora. O sangue dela escorria pelo seu braço e pingava no chão.
Julia e Rayssa exibiam medo nos olhos, mas elas não poderiam sair dali, se elas o fizessem seriam torturadas e mortas também. Graziela parecia não se importar muito com o que acontecia ao seu redor. Ela não estava assustada, mas aquela cena também não a divertia.
— E você — falou Douglas apontando para Patrícia. — Traduza corretamente a seguinte frase...
Te necabo!
— Mas o que é isso? —reclamou Patrícia. — Eu só tenho curso de letras em inglês. Que idioma é esse?
O timer corria enquanto a professora Patrícia tentava em vão traduzir as palavras ditas em latim por Wendy.
Wendy passou a lâmina pelo pescoço da sua professora ao ouvir o toque do timer.
Nenhum deles teria a menor chance de escapar.
—Grazi, não quer se divertir um pouquinho também não? — convidou Douglas, gesticulando para que Wendy passasse a lâmina em suas mãos para Graziela.
Wendy murmurou algumas palavras ininteligíveis e entregou a lâmina para Graziela.
— Eu quero ele — falou Graziela apontando para Rubens.
— Ótima escolha! — aprovou Douglas. — Faça uma pergunta difícil.
Graziela pensou por um instante. Ela já havia percebido o esquema de perguntas dos seus amigos. Eles simplesmente perguntavam coisas das quais os professores não tinham conhecimento, mas que, em algum momento já haviam estudado. Ou que simplesmente tivesse ligação com o que eles lecionavam.
— Em que século e onde foi construída a Basílica de Saint Denis?
Douglas acionou o timer e Rubens rapidamente respondeu:
— Na França no século XII.
Wendy soltou um gemido e caminhou até Graziela. Sarcasticamente, ela disse:
— Parabéns Grazi — e ela bateu palmas. Seu tom era bem sarcástico — Você libertou uma alma. Vamos logo para o próximo e se ele errar poderemos nos divertir um pouquinho.
— E quanto a mim? — perguntou Rubens, com o tom controlado. — Eu acertei sua pergunta. Não tenho direito à liberdade?
— Mas nem pensar! — respondeu Douglas. — Você acertou uma das questões, nossa prova contém 5 questões, então pode esperar pacientemente um pouquinho mais.
Wendy voltou-se para Divino. Esse era o professor que, pelo menos 95% da escola odiava. Wendy estava com uma corda bem grossa na mão. Havia um laço nela. Ela prendeu o laço no pescoço do professor e Douglas amarrou a outra ponta em uma haste de metal no teto. O professor estava em cima de um pequeno palco sentado e preso a sua cadeira.
— Agora vem a parte divertida! — falou Wendy. — E a sua pergunta é:
— Questão de Anatomia: Em quantas partes o osso fêmur é dividido? — perguntou Douglas e acionou o timer.
Divino não falou nada, apenas esperou que o alarme do timer soasse. Esse era o som da morte o chamando. Ele nem sequer se mexeu. Ficou imóvel, encarando o nada a sua frente.
Wendy acionou uma alavanca e a pequena estrutura de madeira que evitava que Divino fosse enforcado se desfez e ele caiu. Seu pescoço foi quebrado, matando-o instantaneamente, evitando a dor de ser sufocado.
— Menos um! — gritou Wendy — Restam apenas três.
Havia lágrimas escorrendo pelo rosto de Rayssa. Ela se recompôs e disse:
— Vocês não acham que já forma longe demais não? Parem com isso. Olhem só o que vocês estão fazendo! — agora Rayssa estava de pé e gritava. — Isso é desumano e cruel!
Wendy aproximou-se dela e passou a lâmina em sua mão por seu peito bem onde estava seu coração. Rayssa caiu de joelhos e depois de alguns minutos sangrando ela deu seu ultimo suspiro.
Todos os olhos naquele pátio encaravam Wendy, atônitos. Ela matara uma de suas amigas sem motivo aparente a sangue frio. Ela era mesmo louca.
— Que foi? — perguntou Wendy. — Qual é? Ela já estava sendo irritante demais.
Wendy pegou um isqueiro do bolso de sua calça e ficou brincando com ele, girando em sua mão. Todos os outros ainda vivos naquele pátio se entreolharam. Todos sabiam que não sairia algo bom daquela mente doentia.
Wendy jogou o isqueiro aceso no chão e um círculo de fogo formou-se em volta do pátio. Ela sorriu ao ver que seus cálculos haviam sido perfeitos. Todos estavam presos dentro do círculo de fogo, exceto ela é claro.
— Eu já estava cansada de todo esse joguinho — falou Wendy, caminhando em volta do circulo. — Isso tudo é muito tedioso. É mais divertido ficar aqui e observar as chamas crescerem — ela olhou o relógio de pulso. — Vocês têm apenas mais cinco minutos antes que a Morte venha lhes fazer uma visita.
—Wendy, porque você está fazendo isso? — perguntou Graziela atordoada.
— Não é obvio? Estou apenas me livrando das evidencias.
— Pensei que estivéssemos nessa juntos — falou Douglas.
Wendy apenas balançou a cabeça negativamente.
Todos olharam enquanto o fogo subia por uma das colunas de concreto e segui pelo teto até uma corda. Quando o fogo terminou de queimá-la ela liberou uma lâmina que foi em direção ao coração do professor Roberto.
— Upis — falou Wendy sorridente. — esqueci de avisar que plantei mais algumas armadilhas aqui. Falha minha.
Outras lâminas se desprenderam das cordas que as seguravam e acertaram os outros dois professores, matando-os instantaneamente. Wendy assistia a tudo cheia de orgulho.
— Agora falta pouco — falou Wendy e começou uma contagem regressiva de 10 segundos olhando em seu relógio.
— (...) Três, dois, um.
E o teto da escola desabou e esmagou todos os que estavam embaixo dele, exceto Wendy, que estava segura longe do círculo de fogo.
Douglas, mesmo à beira da morte encontrou forças para dizer:
— Eu sabia que você não iria cumprir com o nosso pacto, então eu coloquei uma coisinha no seu bolso.
Antes que Wendy pudesse colocar no bolso e saber sobre o que Douglas estava falando, ele apertou um botão no timer e antes de dar seu último suspiro pode ver Wendy explodir deixando apenas uma chuva de sangue.



Em especial para meus amigos: Douglas, Graziela, Juliana e Rayssa; e para nossos “amados” professores: Consuelo, Divino, Galvão, Patrícia, Roberto e Rubens.

Rita Cruz

Weight of The World



O que fazer quando todos os sentimentos te machucam? Como curar as feridas abertas? Como prosseguir tendo uma parte importante de você com outro alguém?
Os sentimentos mais belos são aqueles que mais machucam... Porque tem que ser assim? É tão difícil encontrar as respostas quando não se sabe por onde procurar. Tudo era tão mais fácil quando eu tinha 5 anos. Porque tudo é tão difícil agora? Parece tão injusto. Eu acho que eu não sou uma pessoa tão ruim assim, então por quê? Porque essas emoções me machucam tanto? Porque eu sinto que as pessoas sempre me abandonam? Eu sou tão insignificante assim? Por apenas um instante eu queria poder ter esses sentimentos longe de mim. É pedir de mais?
                                             

 “Sentindo como o peso do mundo,
                                         Como se Deus tivesse me dado a vez”
Weight of The World - Evanescence


Rita Cruz

My Agony






















09/05/11
     Eu estou cansada das pessoas olharem para mim e me chamarem de doida. As pessoas simplesmente não entendem os motivos pelos quais eu faço isso. Julgar alguém é muito fácil, mas tentar descobrir o problema desse alguém é que a parte difícil, mas no fundo, ninguém se importa, não adianta você gritar e clamar por socorro, ninguém para pra lhe escutar ou lhe estender a mão.
                                                I'm going under on my agony...


19/05/11
      Eu estou cansada das pessoas se virarem para mim e dizerem que sentem medo de mim. Eu não sou assustadora. Alguns dos meus hábitos ou as coisas das quais eu gosto podem não ser normais ou comuns, mas isso não me torna um monstro. Não isso.
      Se as pessoas que me chamam de louca ou dizem me temer passassem por metade do que eu passei, ouvissem metade das coisas que me falam ou sentissem um quarto do que eu sinto elas fariam coisas piores.
      Eu não sou um monstro, eu não sou uma pessoa ruim, eu sou apenas uma garota que está cansada de viver em um mundo de mentiras. Eu estou tão cansada e temo não conseguir suportar isso por muito tempo.
                                                               Where is my angel?


24/05/11
      Hoje alguém me perguntou: “O que você tem na cabeça?” Eu queria poder ter uma resposta para dar a esse alguém, mas eu não tenho, não posso explicar uma coisa que nem eu entendo... Às vezes eu só queria poder ter certeza sobre o que eu sinto ou penso. Isso facilitaria tanto as coisas...
                                                                 Today, I wanted to die...




Rita Cruz

Querido Diário...

      


      O sangue brilhava sobre o chão do banheiro. O sangue que escorria do braço e da mão de Rafaella. A lâmina ensangüentada estava sobre a pia. As lágrimas no rosto dela haviam secado e toda a dor que estava em seu peito parecia ter desaparecido.
      Rafaella lavou a mão na pia. Os cortes eram um pouco profundos e ainda sangravam. Rafaella fez um curativo na mão com gaze e esparadrapo, isso serviria para disfarças os cortes.
      Era tarde de domingo e a mãe e o irmão de Rafaella haviam ido para a igreja, então ela estava sozinha em casa. Uma maldita briga fora capaz de trazer tudo o que Rafaella havia enterrado. Tudo. Rafaella foi para seu quarto e pegou seu diário.

                                                                                                                                      17/04 – 22:17
Querido diário, hoje eu sedi à dor e fiz novos cortes no meu pulso e na minha mão mais profundos dessa vez. Esse tipo de coisa está acontecendo com mais freqüência do que nunca. Antes eu conseguia passar um, dois meses sem recorrer à lamina, agora eu não consigo passar nem mais uma semana...
      Eu sou fraca e tola, por trás dessa máscara de garota forte e insensível há um coração que sangra e eu estou cansada de ter que esconder isso... As pessoas olham para mim e vem apenas um rostinho bonito e uma garota dramática, mas ninguém tenta entender os motivos pelos quais eu sou assim, ou faço isso... No fundo, eu só não acabo logo com tudo isso porque me importo demais com aqueles que dizem me amar.


Rafaella fechou o diário e deitou-se na cama. Ela simplesmente deixou que as lágrimas escorressem por seu rosto. Ela chorou por horas, até o cansaço finalmente vencer a dor.
      Na manhã seguinte Rafaella levantou-se mais cedo que de costume e arrumou-se para ir à escola. Sua maquiagem era basicamente preta, bem carregada nos olhos. Ela passou apenas um gloss rosa nos lábios.
      Quando Rafaella chegou à escola ela foi direto para sua sala de aula. Ela sentou-se na ultima cadeira da fileira do canto como era de costume. Ela abaixou a cabeça e ignorou todos a sua volta.
      — OI Rafa — falou Graziella ao chegar à sala de aula.
      Rafaella levantou a cabeça e sussurrou um ‘Oi’. Graziella percebeu que ela não estava muito bem, então resolveu deixá-la um pouco sozinha com seus pensamentos.
      A primeira aula deles seria de Educação Física, então Rafaella poderia ficar sozinha. Todos estariam praticando algum esporte. Ela havia tirado a gaze do braço então isso não serviria como desculpa para não participar da aula.
      Quando a turma desceu para o pequeno ginásio da escola, Graziella viu os cortes na mão de Rafaella. Ela puxou o braço de Rafaella e estendeu a manga do casaco para que pudesse ver seu braço.
      — Você voltou a se cortar? — perguntou Graziella com a voz um pouco alta demais.
      — E daí? — foi só o que Rafaella respondeu.
      — Você sabe que isso não é um comportamento normal, não é?
      — Minha vida não te diz respeito, então me deixa em paz!
      Rafaella caminhou mais rapidamente e entrou no ginásio. Ela sentou-se próxima a quadra de basquete, onde poderia ficar sozinha. Ninguém a perturbaria ali. Ela ligou seu MP4 e colocou na pasta de músicas de Within Temptation.
      Eu não vou chorar, ela jurou para si mesma. Rafaella ainda estava abalada emocionalmente e se permitisse que toda a dor a invadisse novamente as conseqüências poderiam ser mortais.
      Um garoto sentou-se ao seu lado. Seu cabelo castanho ficava na altura do queixo e pendia em cachos angelicais. Seus olhos também eram castanhos. Se Rafaella não estivesse tão deprimida ela  teria dito ‘Oi’.
      — Não se importa se eu me sentar aqui com você, não é? — falou ele sorrindo.
      Rafaella simplesmente balançou a cabeça negativamente. Ela olhava para o chão sob seus pés, o que não costumava fazer ao conversar com um garoto.
      — Sabe, não é legal ver uma garota tão bonita assim tão triste desse jeito.
      Sim, Rafaella era mesmo muito bonita. Tinha a pele branca e delicada — parecia uma bonequinha de porcelana —, seus olhos eram negros como a noite, seu cabelo loiro escuro ficava na altura da costela. Ela também tinha o corpo perfeito, sempre arrancava elogios dos garotos por onde passava e até causava inveja em algumas garotas. Mas para Rafaella tudo era insignificante.
      — Não deixe que um rostinho bonito te engane — respondeu ela, um pouco rude, olhando nos olhos do garoto.
      — Briga com namorado?
      Rafaella voltou a encarar seus pés. Ela soltou um suspiro alto e balançou a cabeça. Ela simplesmente respondeu:
      — Antes fosse tão fácil assim.
      — Então o que foi?
      — Não acha que está sendo intrometido demais, não? Eu nem conheço você. Porque acha que eu lhe contaria meus problemas?
      O garoto levantou as mãos em posição de rendição e disse:
      — Desculpe — seu tom de voz era suave. Ele levantou-se e antes de sair do ginásio completou: — E a propósito, eu sou Daniel.
      Daniel era um garoto muito bonito fisicamente. Sua pele era branca e bronzeada e ele tinha o corpo musculoso. Ele teria arrancado suspiros de Rafaella se eles não tivessem se conhecido naquelas circunstancias.
      Ele estava no terceiro ano do ensino médio. Era um aluno muito dedicado e adorado por todos os seus professores. Rafaella também era uma boa aluna, mas a constante preguiça lhe impedia de ser melhor.
      Após as duas aulas de Educação Física Rafaella foi para o pátio da escola para o primeiro intervalo. Apenas uma imagem tomava conta da mente dela: O rosto de Daniel. Toda a dor e agonia que lhe queimavam por dentro pareciam ter desaparecido. Um sorriso se formou em seu rosto.
      — Bom ver que você está sorrindo — falou Daniel sentando-se ao lado dela.
      — O que você quer? — perguntou ela novamente com o tom rude.
      — Eu descobri uma coisa: Eu não sei o seu nome.
      — É Rafaella.
      — É um nome muito bonito.
      E desde aquele dia Rafaella e Daniel conversavam em todos os dois intervalos, todos os dias.
      Duas semanas se passaram e Rafaella não fez nem um novo corte em seu corpo e nem se sentiu mais triste e deprimida. Ela estava se curando e devia isso a Daniel. Ela estava conhecendo a paixão.

                                                                                                                                    02/05 – 13:32
Querido diário, pela primeira vez não estou escrevendo para fala sobre meus dramas ou aflições... Eu estou feliz e devo isso a um garoto. Acho que finalmente encontrei alguém por quem descongelar meu coração.

I think I’m fell in Love with a boy... Can be?


Sim, Rafaella pudera provar as doces ilusões trazidas pela paixão. Mas isso era mesmo uma coisa boa? Bom, se ela estava feliz não poderia ser algo ruim.
      No dia seguinte, no primeiro intervalo Daniel estava disposto a ficar com Rafaella. Ele estava encantado por sua beleza e delicadeza. Ele também estava apaixonado.
      Quando ele avistou Rafaella ele caminhou em sua direção e a puxou pelo pulso para um canto afastado na pequena área verde da escola — a Natureza como alguns alunos chamavam.
      — Mas o que...? — tentou perguntar Rafaella, mas os dedos em seus lábios a impediram de continuar.
      — Shhhh — sussurrou ele.
      Ele tocou o rosto dela levemente e ela fechou os olhos para que pudesse absorver o máximo daquele momento. O coração de ambos batia aceleradamente. E então seus lábios se tocaram e eles tiveram a certeza de que pertenciam um ao outro.
      Durante as três semanas seguintes os dois ficavam em todos os intervalos. A cada beijo e a cada toque eles ficavam ainda mais apaixonados um pelo outro. Não podia haver nada mais perfeito que aquele sentimento recípocro.
      — Seja minha namorada — falou Daniel, seu tom parecia ser mais como uma ordem que um pedido.
      — Eu não diria não a nenhum pedido que você me fizesse — respondeu Rafaella.

                                                                                                                                       24/05 – 19:53
Querido diário, a cada dia que passa eu tenho mais certeza de que encontrei um anjo... Um ser perfeito e que foi enviado para me resgatar das trevas que me consumiam; para me salvar de mim mesma e me mostrar que existem sentimentos que não devem morrer.
      Agora eu tenho plena certeza de que amo Daniel.


Daniel terminou o ensino médio com dezoito anos. Rafaella estava ainda no terceiro com apenas dezesseis anos.
      O tempo e a distância não fez o amor dos dois diminuir, esse sentimento só cresceu.
      Passados quatro anos, Daniel resolveu pedi-la em casamento. Ele a amava e queria que ela fosse sua até a morte os separar.
      Eles estavam na praça de alimentação de um shopping e uma banda tocava a música favorita de Rafaella — All I need de Within Temptation — Ele havia colocado uma pequena surpresinha no fundo da taça de sorvete dela. Quando ela terminou sua sobremesa um sorriso enorme brotou em seu rosto.
      — Isso...? — ela não conseguiu terminar a frase, a emoção lhe travou a garganta.
      — Sim — respondeu Daniel. — Você quer se casar comigo?
      — Sim, sim sim! — respondeu ela sorrindo.
      Os dois se abraçaram por longos segundos e finalmente se beijaram.
      Dois anos depois quando Daniel terminou sua faculdade de direito e Rafaella estava no ultimo semestre de medicina eles se casaram.
      A festa de casamento foi bem simples, algo para cerca de 50 convidados; alguns familiares e amigos mais íntimos. O amor dos dois foi o bastante para emocionar a todos. Os dois se amavam mais que tudo e tosos podiam ver isso.


                                                                                                                                     19/02 – 11:50
Querido diário, ontem eu li todas as coisa que escrevi há 6 anos atrás e fiquei me perguntando: Se eu não tivesse conhecido meu anjo Daniel, minha vida ainda seria encoberta por uma nuvem negra? Bom, isso eu não sei, mas eu sei que devo a ele toda a alegria que sinto, foi ele quem me deu um motivo para respirar, ele me deu algo em que acreditar.
      E hoje minha resposta é: Sim. Sim o amor pode curar todas as feridas, é o bastante para se fazer brotar uma flor onde há espinhos. É a única coisa que realmente importa. Hoje eu percebo o quanto estava sendo tola ao fugir desse sentimento tão mágico. Amar vale a pena.
      Estou no carro indo para meu apartamento com meu anjo. Essa é a ultima vez que lhe escrevo, estou aqui para me despedir, e quem sabe um dia essas minha palavras também ajudem a salvar uma alma.

E aquela magia entre os dois jamais acabou. Eles viveram todos os dias amando um ao outro e ainda continuaram apaixonados. Eles tiveram um casal de filhos, uma garota com cabelo divinamente encaracolado e um garoto com o cabelo loiro e liso.
      O amor deles durou uma vida inteira e perpetuou no coração de seus descendentes. Seus filhos, netos e bisnetos já nasceram sentindo um pouco daquela magia para que o amor dos dois jamais tivesse um fim, mesmo depois de eles findarem sua existência.


Rita Cruz

A Bad Day

























What can happen on a bad day? Can rain? Your computer can break? Can you be late? Yes, it can happen. But if that isn't enough? In my bad day I lost my soul, all my smiles disappeared, all good in me died and the only think that stayed killed me inside...

I know, I'm frozen. But what can I do? The people say that love is very good, magical and can save a lost soul... But how can I believe in all that killed me? How can I love the people if nobody loves me? Maybe one day I can back to believe in the power of love. But it seems so hard...




Rita Cruz

A Vingança de Ana Luíza

“A
 morte é apenas o fim de todas as dores” Era o que o recado na ultima certeira falava. Natália leu a esse recado sem muito interesse. Para ela era apenas mais uma frase insignificante escrita por qualquer perturbado mental, mas ela não sabia que por trás daquelas letras estava uma ameaça, um aviso do que aconteceria em breve.
      As amigas de Natália chegaram e sentaram-se próximas a ela. Elas eram seis no total: Rafaella, Tatiane, Natália, Thalise e Viviane. Elas sempre sentavam juntas no funda da sala, algumas eram desejadas pelos garotos da turma e odiadas pelas garotas.
      Ana Luíza entrou na sala de aula e as garotas começaram a cochichar alguns insultos entre si, as garotas a detestavam e Ana Luíza também as odiava. Ana lançou-lhes um olhar de raiva. Elas não sabiam, mas em alguns instantes aqueles olhos que brilhavam de raiva estariam fumegando de ódio.
      Após o termino das aulas — que foram apenas três naquele dia para aquela turma —, Natália e suas amigas resolveram ficar na escola para conversarem. Ana Luíza fez o mesmo, mas o que ela queria fazer estava longe de conversar.
      As garotas compraram uma garrafa de suco na lanchonete da escola, entraram em uma sala vazia e a trancaram por dentro. Natália serviu o suco as meninas.
      — Quando é que você vai ficar com o Lucas Tatiane? — perguntou Natália a sua amiga.
      — Quando ele mudar de nome e crescer! — falou Tatiane alto demais.
      Ana Luíza entrou pela janela sem que as garotas conseguissem ver. Ela pegou a chave na porta antes que alguém pudesse fazer alguma coisa.
      — Eu tinha certeza que ela era louca, mas ainda não sabia que era tão estúpida! — gritou Thalise.
      — Você sabe que nós te odiamos — falou Viviane. — Você não tem mesmo amor à vida.
      Um sorriso se repuxou no rosto de Ana e ela disse calmamente:
      — Claro que tenho. Justamente por isso tomei algumas precauções.
      Ela observou cada uma das garotas caírem ao chão. Uma a uma, todas caíram e Ana sorriu ironicamente na sala de aula silenciosa.
      A primeira a despertar foi Rafaella. Ela estava tonta e ainda confusa com o que acontecera. A última coisa da qual se lembrava era do rosto de Ana Luíza com uma expressão realmente assustadora.
      — Onde estou? — perguntou ela com a voz fraca.
      Rafaella tentou levantar-se, só então percebeu que estava amarrada a uma cadeira. Seus pés estavam presos e suas mãos amarradas para trás. Ela despertou abruptamente.
      — No inferno — respondeu Ana Luíza do outro lado da sala escura.
      Sua voz demonstrava frieza. Ela estava vestida de preto dos pés a cabeça.Um vestido preto com corpete e uma meia-calça preta rendada por baixo. Ela estava ainda com um sobretudo por cima. Sua maquiagem estava carregada de preto também.
      — Mas o que é isso? — gritou Rafaella retorcendo-se na cadeira tentando escapar. — Me deixa sair!
      Todas as garotas despertaram e assim como Rafaella todas gritavam mandando Ana Luíza soltá-las. Todas estavam muito assustadas. A última a despertar foi Tatiane que estava com uma corda amarrada em sue pescoço. Suas mãos estavam amarradas ao teto daquela sala escura, era isso que a impedia de ser enforcada. Seus pés estavam a vários centímetros do chão.
      — Que bom que todas já estão despertas — falou Ana Luíza. — Agora podemos começar o nosso joguinho.
      Ana ascendeu a luz e todas perceberam que estavam em um porão cheio de facas e lâminas. Todas ficaram assustadas. Havia pelo menos duas facas apontadas para cada uma. Agora elas estavam em uma das cenas de filmes de terror que elas tanto adoravam.
      — O quê? — gritou Natália. — Você é louca. Me tira daqui!
      — Nem pensar — respondeu Ana. — A boa notícia é que vocês podem salvar umas as outras. Mas é claro que não vai ser tão fácil assim. Vocês têm um minuto para responderem 10 questões de conhecimentos gerais. Isso vai garantir que a Tatiane não seja enforcada.
      — O quê? — gritou Tatiane.
      — As perguntas apareceram naquela tela — Ana apontou para a tela do data show. — Vocês têm um minuto a partir de agora.
      Ana acionou o timer na parede. Ela assistiu enquanto as garotas lutavam, sem muito sucesso, para responderem as perguntas. No final elas conseguiram acertar apenas três das dez perguntas. Ana puxou uma alavanca e as correntes que seguravam Tatiane no teto foram soltas. Ela foi enforcada.
      — Uma já foi — falou Ana e sorriu novamente. — Quem será a próxima?
      As garotas gritavam e choravam. Ninguém poderia ouvi-las. Ana Luíza ria histericamente ao ouvir os gritos pavorosos das cinco garotas ainda vivas.
      — Quem será a próxima? — falou Ana, mas para si mesma. — Ah ninguém aqui está com pressa! Podemos nos divertir um pouquinho mais. Muito bem, o que seria de vocês sem esses rostinhos bonitos?
      Ana pegou um chicote e acertou no lado direito do rosto de cada uma delas. As garotas choravam e gritavam de dor.
      — Isso não vai ficar assim! — gritou Rafaella. — Você vai pagar por tudo isso!
      Ela se remexia, em vão, na cadeira tentando se livrar das cordas. Seus gritos eram muito estridentes. Ana Luíza aproximou-se dela e cortou uma corda que estava atrás da cadeira. Uma lâmina passou pelo pescoço dela, matando-a instantaneamente.
      — Ninguém merecia aqueles gritos, não é? — zombou Ana. — Muito bem, quem quer ser a próxima? Ganhará pontos por se sacrificar por suas amigas.
      Todas as garotas se olharam. Ninguém falou nada. Ana Luíza caminhou na direção de Viviane também cortou a corda atrás de sua cadeira. Ela também foi decapitada.
      — Por que isso agora? — indagou Thalise.
      — Simplesmente porque eu enjoei da cara dela — respondeu Ana dando de ombros. — E então, nenhum voluntário? Vou ter que escolher novamente?
      Novamente, não houve resposta. Ana caminhou na direção de Thalise e a decapitou. Agora restava apenas uma. A garota que Ana Luíza mais detestava.
      — Vamos — chamou Natália — acabe logo com isso!
      — E estragar a parte divertida? Nem pensar.
      — O que você quer então?
      — Somente me deliciar da sua dor e agonia — Ana pegou uma faca em cima de uma pequena mesa e começou a acariciá-la. — Sabe, você foi a que mais me humilhou e me colocou pra baixo dentre todas aquelas vadias. Porque eu deveria ser piedosa com você?
      — Ah então é por causa disso? Você é doente.
      — Talvez, mas quem vai sofrer com isso é você, e não eu.
      Ana passou a faca que estava em sua mão no braço direito de Natália. O corte foi profundo e sangrava bastante. Os olhos de Natália estavam cheios de lágrimas, sua dor divertia Ana Luíza.
      — É só isso? — perguntou Natália. — Porque não acabar logo com tudo isso?
      — Porque você não merece uma morte rápida! — gritou Ana e acertou as pernas de Natália com o chicote.
      Ela só parou quando pode ver os vários cortes sangrarem intensamente. Ela repuxou um sorriso no canto do lábio e falou:
      — Agora sim a diversão vai começar!
      Ana pegou sal e esfregou nas feridas de Natália. Ela gritava e gemia de dor e Ana sorria com tudo aquilo.
      — Para! — gritou Natália. — Para com isso! Chega! Acaba logo com isso! Me mata!
      Ana Luíza parou e pegou novamente a faca.
      — Agora sim você pronunciou as palavras certas.
      Ana cortou a corda que mantinha Natália viva, acabando assim com sua vida. Ana Luíza se vingara por todas as palavras que lhe feriu, por todas as constantes piadas. Agora ela podia se sentir mais leve, como se tivesse tirado um peso de dentro de si.
      Ana ficou no porão da escola junto com as garotas mortas por dois dias até uma servente entrar no local e ver toda aquela cena. As cinco garotas mortas saíram do porão dentro de caixões e Ana Luíza dentro de uma camisa de força.

                    Em especial para Ana Luíza que me inspirou nesse sangrento conto.

                                                                                                                                           Rita Cruz

Paixão





















A paixão é uma coisa ruim!
Era o que eu costumava dizer sempre...  Mas pode haver verdade nessas palavras? A paixão pode mesmo ser algo ruim? Bom, quando há reciprocidade isso se torna uma coisa boa, certo? O que diferencia o amor materno ou fraternal do amor de um homem para uma mulher é a paixão...
A paixão é que os faz sentirem tanto desejo um pelo outro, é isso que mantem uma chama acesa em ambos...
Mas quando a paixão é unilateral se torna tão dolorosa, pode quebrar um coração em incontáveis pedaços, algo que é capaz de te destruir fazer você se sentir mal da pior maneira possível. 
Isso tudo é tão confuso...


                                                              Rita Cruz
 

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