Incubus

A
s marcas ainda estavam em meu corpo. Seis meses inteiros haviam se passado e a cena ainda estava em minha mente: Todos os faróis piscando intensamente, o som das buzinas, dos pneus rugindo contra o solo... Fora horrível.
      Um caminhão fechara o carro dos meus tios que estavam a nossa frente. Isso causou um mortal engavetamento na movimentada rodovia. Eu fui a única sobrevivente. A única entre as trinta vítimas.
      E agora, aqui estou eu, de volta ao local onde minha vida foi tirada. Onde eu perdi meus pais e meus tios preferidos. E também meu irmão de apenas dois anos. Eu morri ali com eles.
      Eu não sabia na época o motivo pelo qual sobrevivi àquele trágico acidente, eu acreditara que fora algum tipo de milagre. Mas agora a resposta está crescendo dentro de mim. Eu não sabia que estava grávida. Claro, antes eu teria pensado que isso seria impossível. Como uma garota virgem amanhece com um feto em seu útero? Eu também não teria acreditado na resposta se não tivesse visto com meus próprios olhos. Eu sempre fui muito cética.
      O filho que carrego em meu ventre é filho de um demônio. Filho de Íncubos.
      Claro que eles não me deixariam morrer e levar seu futuro líder comigo.
      E agora aqui estou eu no enorme memorial em homenagem a todas as pessoas que perderam suas vidas no acidente em que eu deveria ter morrido me preparando para o meu banquete. A primeira refeição do meu demoníaco filho.
      A primeira refeição sangrenta dele e a última em meu ventre. Eu sei que não sobreviverei depois que trouxer ao mundo a criança gerada por um demônio, mas eu meio que já estou morta desde que perdi todos que amava há seis meses. Então, o que eu tenho a perder?
      Após meu farto banquete irei me encontrar com os demônios responsáveis em cuidar da minha segurança. Eu ainda não sei o que eles querem, mas no fundo acho que eu sei exatamente o que eles querem. Enfim, em alguns minutos descobrirei.
      — Entre no carro — falou um homem alto e moreno. Na verdade, o demônio no corpo dele.
      Eu simplesmente obedeci sem questionar. Eram apenas dois homens/demônios. O motorista nos levou até uma pequena mata. Antes eu teria feito de tudo para não entrar ali, mas agora não. Isso só poderia significar uma coisa: Estava na hora.
      Eu fui conduzida até um enorme círculo. Haviam seis traços desenhados dentro do círculo. Era um hexagrama. Eu fui levada para o centro daquele hexagrama.
      Sozinha, gemendo de dor e dilacerando-me em agonia eu trouxe ao mundo aquele que traria a destruição da raça humana.
      — Pronto, agora acabou — falou um dos demônios e levou meu filho com ele.
      Não, não havia acabado. Aquele era apenas o começo. Talvez fosse o começo do fim, mas não era o fim ainda.
      Os demônios se foram deixando-me sozinha naquela mata. Instantes depois um grupo de garoto chegou. Eles eram Caçadores Nefilins com certeza.
      — Chegaram tarde demais — falei com a respiração ainda ofegante.
      — Talvez nem tanto — falou um garoto com cabelo loiro. — Sem a mamãe dele para orientá-lo em sua missão de destruição talvez ele escolha ficar do lado da humanidade.
      Sim, talvez ele estivesse certo, mas era pouco provável. Meu filho faria aquilo que nascera para fazer. Era seu destino.
      O garoto loiro levantou uma adaga sob meu peito e acertou meu coração. Eu estava cansada demais para gritar de dor. Simplesmente fechei meus olhos e esperei pelo fim. Toda a dor cessou.
                                                                                                                                            Rita Cruz

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