Pacto dos alunos

A aula de filosofia arrastava-se por minutos intermináveis. Todos os alunos sentados ao fundo da sala — Douglas, Graziela, Julia, Rayssa e Wendy — estavam incrivelmente entediados.
— Eu juro que se pudesse matava esse professor! — reclamou Julia.
Douglas e Wendy trocaram um olhar cúmplice. Wendy olhou para Julia e disse:
— Cuidado com o que você deseja.
Um tremor percorreu a espinha de Julia. Ela sempre achou Wendy um pouco pavorosa.
Wendy era uma garota meio esquisita. Sempre usava roupas pretas e uma maquiagem incrivelmente pesada. Seus gostos musicais e literários eram pouco comuns. Ela gostava de bandas vampirescas e escritores góticos.
— O que você quis dizer com isso? — perguntou Rayssa, temendo um pouco a resposta que viria a seguir.
— Quer dizer que vocês precisam vir comigo à sala dos professores quando as aulas acabarem — respondeu Wendy.
Rayssa e Julia trocaram um olhar. Ambas estavam com medo de descobrir o que Wendy faria, mas no final acabaram concordando.
Após todas as seis aulas acabarem, aquele grupo de amigos se reuniu em frente à escola.
— Esperem-me aqui — falou Wendy secamente e depois voltou à escola.
Vários minutos depois Wendy retornou. E para seus amigos ela disse:
— Podemos entrar agora.
— E eles vão nos deixar entrar? — perguntou Graziela. — Não há mais ninguém ali.
— Exatamente — respondeu Wendy com um tipo de sorriso sinistro no rosto. — E é por isso que nós vamos.
Os cinco alunos entraram na escola deserta. Não havia sinal nenhum de vida ali.
— Onde estão todos? — perguntou Rayssa.
— Estão dormindo — respondeu Douglas com o tom seco que Wendy usara antes.
Douglas e Wendy vinham planejando esse momento há meses. Eles queriam se livrar de alguns de seus professores. Eles desligaram as câmeras do colégio e amarram os professores no enorme pátio da escola. Sim, eles eram bem malucos.
— Agora é a nossa vez de ensinarmos algo a eles! — falou Wendy, novamente com seu sorriso perverso no rosto.
Eles eram seis no total: Galvão, Divino, Rubens, Patrícia, Consuelo e Roberto, respectivamente, professores de: Filosofia, Matemática, História, Inglês, Sociologia e Física. Todos estavam presos e inconscientes.
— Vocês são loucos, não é? — perguntou Julia após ver toda aquela cena.
— Ah vai me dizer que não está nem um pouquinho a fim de se divertir? — a voz de Wendy agora era calma e um pouco infantil.
— Não desse jeito! — falou Rayssa.
Wendy deu um soco no ar e bateu o pé como uma criança mimada faria ao ser contrariada. Ela virou-se para Douglas e disse:
— Eu sabia que seria um erro chamá-las.
Douglas inclinou-se para Wendy e disse ao seu ouvido, para que apenas ela ouvisse:
— Talvez possamos ficar entediados após acabarmos com os seis.
Wendy sorriu e apenas concordou com a cabeça, um gesto que só Douglas pode ver. Uma nova cena se passou pela cabeça de Wendy: Julia e Rayssa caídas em uma poça com seu próprio sangue. Ela não pode deixar de sorrir ao pensamento.
Todos os cinco alunos sentaram-se e esperaram pacientemente até todos os seus “amados” professores acordarem.
— Ah que bom que vocês resolveram se juntar a nossa festinha! — falou Wendy levantando-se, após todos estarem despertos.
A professora Patrícia foi a primeira a perceber que estava amarrada. Ela disse:
— Mas o que é isso?
— Só vamos dar uma aula a vocês — falou Douglas. — Só isso.
— Primeira aula: Biologia! — falou Wendy com uma lâmina na mão.
Ela aproximou-se devagar da professora Consuelo. Todos os olhos se voltavam para ela agora. O que ela ia fazer? O que aquela maluca tinha em mente? Coisas boas não poderiam ser. A mente de Wendy era doentia e perversa.
— Primeira pergunta... — falou Douglas, interrompendo a frase para que Wendy continuasse.
— A artéria braçal ramifica-se em outras duas. Quais são elas?
— Mas o que é isso? — protestou Consuelo. — É claro que eu não tenho obrigação de responder a nenhuma pergunta sua! E me tira daqui!
Douglas acionou um timer e disse:
— Você tem apenas um minuto.
Consuelo olhou incrédula para seus alunos. O que se passava na mente deles para estarem fazendo tudo aquilo? Todos estavam confusos e com medo.
— Seu tempo esgotou — falou Wendy após o timer parar.
Ela passou a lâmina no braço da professora, exatamente onde passava a artéria braçal. Consuelo estava com os braços para cima, presos a uma corrente. Wendy não teve dificuldades para encontrar a artéria e rompe-la.
Douglas e Wendy sorriram ao ver o sangue jorrar do braço da professora. O sangue dela escorria pelo seu braço e pingava no chão.
Julia e Rayssa exibiam medo nos olhos, mas elas não poderiam sair dali, se elas o fizessem seriam torturadas e mortas também. Graziela parecia não se importar muito com o que acontecia ao seu redor. Ela não estava assustada, mas aquela cena também não a divertia.
— E você — falou Douglas apontando para Patrícia. — Traduza corretamente a seguinte frase...
Te necabo!
— Mas o que é isso? —reclamou Patrícia. — Eu só tenho curso de letras em inglês. Que idioma é esse?
O timer corria enquanto a professora Patrícia tentava em vão traduzir as palavras ditas em latim por Wendy.
Wendy passou a lâmina pelo pescoço da sua professora ao ouvir o toque do timer.
Nenhum deles teria a menor chance de escapar.
—Grazi, não quer se divertir um pouquinho também não? — convidou Douglas, gesticulando para que Wendy passasse a lâmina em suas mãos para Graziela.
Wendy murmurou algumas palavras ininteligíveis e entregou a lâmina para Graziela.
— Eu quero ele — falou Graziela apontando para Rubens.
— Ótima escolha! — aprovou Douglas. — Faça uma pergunta difícil.
Graziela pensou por um instante. Ela já havia percebido o esquema de perguntas dos seus amigos. Eles simplesmente perguntavam coisas das quais os professores não tinham conhecimento, mas que, em algum momento já haviam estudado. Ou que simplesmente tivesse ligação com o que eles lecionavam.
— Em que século e onde foi construída a Basílica de Saint Denis?
Douglas acionou o timer e Rubens rapidamente respondeu:
— Na França no século XII.
Wendy soltou um gemido e caminhou até Graziela. Sarcasticamente, ela disse:
— Parabéns Grazi — e ela bateu palmas. Seu tom era bem sarcástico — Você libertou uma alma. Vamos logo para o próximo e se ele errar poderemos nos divertir um pouquinho.
— E quanto a mim? — perguntou Rubens, com o tom controlado. — Eu acertei sua pergunta. Não tenho direito à liberdade?
— Mas nem pensar! — respondeu Douglas. — Você acertou uma das questões, nossa prova contém 5 questões, então pode esperar pacientemente um pouquinho mais.
Wendy voltou-se para Divino. Esse era o professor que, pelo menos 95% da escola odiava. Wendy estava com uma corda bem grossa na mão. Havia um laço nela. Ela prendeu o laço no pescoço do professor e Douglas amarrou a outra ponta em uma haste de metal no teto. O professor estava em cima de um pequeno palco sentado e preso a sua cadeira.
— Agora vem a parte divertida! — falou Wendy. — E a sua pergunta é:
— Questão de Anatomia: Em quantas partes o osso fêmur é dividido? — perguntou Douglas e acionou o timer.
Divino não falou nada, apenas esperou que o alarme do timer soasse. Esse era o som da morte o chamando. Ele nem sequer se mexeu. Ficou imóvel, encarando o nada a sua frente.
Wendy acionou uma alavanca e a pequena estrutura de madeira que evitava que Divino fosse enforcado se desfez e ele caiu. Seu pescoço foi quebrado, matando-o instantaneamente, evitando a dor de ser sufocado.
— Menos um! — gritou Wendy — Restam apenas três.
Havia lágrimas escorrendo pelo rosto de Rayssa. Ela se recompôs e disse:
— Vocês não acham que já forma longe demais não? Parem com isso. Olhem só o que vocês estão fazendo! — agora Rayssa estava de pé e gritava. — Isso é desumano e cruel!
Wendy aproximou-se dela e passou a lâmina em sua mão por seu peito bem onde estava seu coração. Rayssa caiu de joelhos e depois de alguns minutos sangrando ela deu seu ultimo suspiro.
Todos os olhos naquele pátio encaravam Wendy, atônitos. Ela matara uma de suas amigas sem motivo aparente a sangue frio. Ela era mesmo louca.
— Que foi? — perguntou Wendy. — Qual é? Ela já estava sendo irritante demais.
Wendy pegou um isqueiro do bolso de sua calça e ficou brincando com ele, girando em sua mão. Todos os outros ainda vivos naquele pátio se entreolharam. Todos sabiam que não sairia algo bom daquela mente doentia.
Wendy jogou o isqueiro aceso no chão e um círculo de fogo formou-se em volta do pátio. Ela sorriu ao ver que seus cálculos haviam sido perfeitos. Todos estavam presos dentro do círculo de fogo, exceto ela é claro.
— Eu já estava cansada de todo esse joguinho — falou Wendy, caminhando em volta do circulo. — Isso tudo é muito tedioso. É mais divertido ficar aqui e observar as chamas crescerem — ela olhou o relógio de pulso. — Vocês têm apenas mais cinco minutos antes que a Morte venha lhes fazer uma visita.
—Wendy, porque você está fazendo isso? — perguntou Graziela atordoada.
— Não é obvio? Estou apenas me livrando das evidencias.
— Pensei que estivéssemos nessa juntos — falou Douglas.
Wendy apenas balançou a cabeça negativamente.
Todos olharam enquanto o fogo subia por uma das colunas de concreto e segui pelo teto até uma corda. Quando o fogo terminou de queimá-la ela liberou uma lâmina que foi em direção ao coração do professor Roberto.
— Upis — falou Wendy sorridente. — esqueci de avisar que plantei mais algumas armadilhas aqui. Falha minha.
Outras lâminas se desprenderam das cordas que as seguravam e acertaram os outros dois professores, matando-os instantaneamente. Wendy assistia a tudo cheia de orgulho.
— Agora falta pouco — falou Wendy e começou uma contagem regressiva de 10 segundos olhando em seu relógio.
— (...) Três, dois, um.
E o teto da escola desabou e esmagou todos os que estavam embaixo dele, exceto Wendy, que estava segura longe do círculo de fogo.
Douglas, mesmo à beira da morte encontrou forças para dizer:
— Eu sabia que você não iria cumprir com o nosso pacto, então eu coloquei uma coisinha no seu bolso.
Antes que Wendy pudesse colocar no bolso e saber sobre o que Douglas estava falando, ele apertou um botão no timer e antes de dar seu último suspiro pode ver Wendy explodir deixando apenas uma chuva de sangue.



Em especial para meus amigos: Douglas, Graziela, Juliana e Rayssa; e para nossos “amados” professores: Consuelo, Divino, Galvão, Patrícia, Roberto e Rubens.

Rita Cruz

1 Comentário:

douglas rodrigues. disse...

AMOOOO ESSA HISTÓRIA.
da até vontade de fazer isso de verdade

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